Categorias: Artigo

“Carta a Najwa Hussein Hajjaj” – Por Suzete Nocrato

Suzete Nocrato, jornalista e mestre em Comunicação Social pela UFC. Foto: Reprodução

Com o título “Carta a Najwa Hussein Hajjaj”, eis mais uma crônica da lavra de Suzete Nocrato, jornalista e mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. “Najwa Hussein Hajjaj, de 6 anos, perdeu 42% do seu peso corporal nos últimos dois meses, passando de cerca de 15 kg para 9 kg. Najwa precisa de refeições especialmente preparadas devido a um problema no esôfago, mas sua família mal consegue encontrar comida. Os médicos a diagnosticaram com desnutrição grave.”

Confira:

Querida Najwa,

Há dias penso em lhe escrever, mas as palavras me escapam. Não sei como iniciar uma carta para alguém que carrega um coração dilacerado pela dor feita de ausências, de silêncios estilhaçados, de respiros entre escombros e bombas. Seria uma afronta perguntar como está, quando tudo ao seu redor lhe nega a possibilidade de ser. Quando jovem, eu sonhava conhecer sua terra, a Palestina. Imaginava como era viver na Faixa de Gaza, esse lugar experimentado por invasões, conquistas, retalhadas por impérios, dinastias e povos que se sucederam como ondas de uma mesma praia, mas se erguia de novo, com a mesma teimosia das flores que brotam entre pedras.

Hoje, já não ouso fantasiar caminhar por suas ruas, nem ouvir o chamado da vida que um dia floresceu na diversidade. Gaza deixou de ser um lar, tornou-se uma prisão a céu aberto, onde pessoas vivem em perpétuo deslocamento. Forçadas pela brutalidade da força e o desejo de exterminação, são obrigadas a abandonar suas casas, deixando atrás de si não apenas destruição, mas uma trilha de vidas inocentes interrompidas.

Não alcanço a medida exata da desumanidade que se ergue contra crianças, como você, em nome da segurança. Não compreendo como se decreta o fim de vidas sob o pretexto de extirpar o terror. Penso, que o que mais tememos seja o espelho do nosso próprio desejo — e, por medo de reconhecê-lo, tentamos matá-lo no outro. O que vejo é um povo que insiste em existir, mesmo quando querem apagá-lo.

Escrevo a você, Najwa, porque continuar em silêncio me torna cúmplice. Porque, ainda que essa carta não altere sua realidade, mas ao reconhecer sua dor, eu consiga costurar um fio invisível entre sua vida e a minha. Um fio de humanidade que, apesar de tudo, ainda resiste.

Mesmo que não tenham sido minhas decisões a roubar a infância, os sonhos e o riso, carrego comigo a vergonha de uma humanidade que falhou. Peço-lhe perdão pela fome que devorou quase metade do seu corpo frágil e transformou o brincar dos seis anos em um peso de sobrevivência. Perdão pela falta de empatia e compaixão, pelo silêncio cúmplice das nações e por todos nós que nos calamos diante da negação à vida.

Não se constranja se minha súplica não encontrar eco em sua alma. Sei como é difícil, quase impossível. Penso que tal sentimento só nos alcança quando o coração se ver livre das correntes que o atormentam, quando já não sangra nas feridas que dilaceram a alma.

Desejo que lhe seja devolvido o direito usurpado de sonhar — e, sobretudo, o de viver plenamente.

Receba o meu carinho e as melhores energias.

*Suzete Nocrato

Jornalista e mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Esse website utiliza cookies.

Leia mais