“Cartola” – Por Totonho Laprovítera

Totonho Laprovítera é arquiteto e escritor. Foto: Reprodução

Com o título “Cartola”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovítera, arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.

“Criatividade é a arte de conectar ideias.” (Steve Jobs)

Há quem veja na inovação e no empreendedorismo apenas a urgência dos números e o brilho efêmero do sucesso.

Eu, porém, sempre os enxerguei como um presente ao sonho. Gosto de abrir caminhos, de inventar oportunidades. Mas não me satisfaço em manter tudo apenas no plano da aspiração: preciso concretizar. E, quando a ideia se transforma em ação, a satisfação se multiplica no prazer de compartilhar – especialmente com aqueles que conduzem seu negócio não apenas como trabalho, mas como um verdadeiro exercício de praticar o bem.

Inovação e empreendedorismo me fascinam: gosto de sonhar, realizar e compartilhar aprendizados com quem segue o mesmo princípio.

Essa história se passou num tempo em que documentos ainda eram papel carimbado e guardado em gaveta, entre a partida do Telex e a chegada do Fax – bem longe dos fios invisíveis da eletrônica e coisa e tal.

Numa festa de aniversário de uma respeitada figura da política, sentei-me à mesa com um empresário de grande prestígio.
Conversa vai, conversa vem, ele quis saber do meu trabalho. Apresentei-me como artista múltiplo e arquiteto e, entre sério e brincalhão, contei que havia fundado, junto ao amigo de infância Chiquinho – essa cruz que a vida me deu e que, ainda assim, carrego com afeto – uma empresa chamada “Cartola”, diferente de tudo que existia em nossas áreas.

Sorri discretamente. Talvez por isso a história tenha chamado a atenção de quem a escutava.
Curioso, ele perguntou qual era a inovação. Expliquei que se tratava de uma empresa informal e virtual, comprometida com a responsabilidade ecológica, que operava totalmente online, reduzindo custos, oferecendo flexibilidade e alcançando clientes em qualquer lugar.

E, com ar de quem revela segredo, emendei: Para o senhor ter ideia do rigor com que seguimos nossos princípios, evitamos ao máximo o uso de papel.
Nossa campanha contra a devastação das matas é tão radical que não emitimos nem nota fiscal!

O empresário levantou as sobrancelhas. Arregalou os olhos. Aproximou-se, inclinou-se, baixou a voz – como quem tenta descobrir uma fórmula preciosa: “Por obséquio, amigo… como é mesmo que funciona essa sua empresa?”

*Totonho Laprovítera

Arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.

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