Enfim, Caucaia ganhou uma candidatura de oposição, com liberdade para queimar paradas do Bora de Graça, ignorar a valorização do servidor público, travar tablets de alunos e notebooks de professores, botar pra correr trabalhadores ambulantes e seus camelódromos, interditar a alça viária, invadir a terra demarcada dos povos indígenas, fechar a UTI do hospital municipal e até derrubar os espigões já construídos e ainda rejeitar os que ainda serão erguidos. E, mesmo assim, capaz de angariar muitos… muitos votos.
Estamos falando do coronel Aginaldo de Oliveira, marido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), com pré-candidatura confirmada no segundo maior colégio eleitoral do Ceará pela direção nacional do PL.
Aginaldo chega como “oposição legítima” em Caucaia porque possui o apelo que nenhum outro opositor do prefeito Vitor Valim poderia apresentar: resolver o problema da violência comum às grandes cidades no mundo, por meio do discurso do terror.
Por certo, o coronel da reserva da Polícia Militar do Ceará, natural de Alto Santo, no Baixo Jaguaribe, e residente ora em Brasília e ora em São Paulo, acredita fazer a população de Caucaia engolir que a sua simples eleição a prefeito fará a “bandidagem” procurar outro território. Não há dúvida da presença na campanha da esposa Zambelli, que ficou estigmatizada no país por percorrer ruas em São Paulo com arma em punho, atrás de um homem negro e desarmado. Em Caucaia, a carreira poderá ser contra um indígena.
Pouco deverá importar para Aginaldo se o combate à violência em Caucaia já é feito em ação conjunta entre a Prefeitura e o Governo do Ceará, por meio de capacitação de jovens, do incentivo às práticas esportivas e dos investimentos em educação. Como resultado, Caucaia saiu da incômoda segunda cidade mais violenta do país para a vigésima nona, segundo os dados do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci). Mas enquanto houver violência, há espaço para o coronel Aginaldo.
A pré-candidatura de Aginaldo de Oliveira enterra as pré-candidaturas do ex-prefeito Naumi Amorim, da deputada estadual Emília Pessoa e do vice-prefeito Deuzinho Filho, essa ideologicamente já morta por fazer parte da gestão à qual critica.
Mas Aginaldo não é totalmente responsável pelo fim dos demais opositores, pois Naumi, Emília e Deuzinho nunca entraram no debate que verdadeiramente interessaria a Caucaia, principalmente o ônibus de graça e os espigões. Nunca se viu ou ouviu do grupo como se dará o transporte gratuito, caso algum fosse eleito. A lógica é que o benefício chegará ao fim com Naumi, Emília ou Deuzinho.
Com Aginaldo no jogo, Naumi, Emília e Deuzinho terão que se reinventar para o eleitorado de Caucaia, pois não há como sustentar a fake news de um empréstimo de R$ 60 milhões ou patrocinar a campanha difamatória de “#ForaValim”, sem explicar o porquê de um fora Valim, quando o próprio Aginaldo está acima desse tipo de politicagem. Ou abaixo…
Nicolau Araújo é jornalista pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido.