“Cibazol” – Por Totonho Laprovítera

Totonho Laprovítera, o contador de histórias. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “Cibrazol”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto urbanista, escritor e artista plástico. 

Confira:

“Nada agrava mais a pobreza, que a mania de querer parecer rico.” (Marquês de Maricá)

O Taquary Research Institute revelou que 85% das pessoas evitam bares de donos educados. Ao saber disso, não pensei duas vezes: meti o pé na carreira e fui bater no bar do Cibazol – gente boa, mas, mais grosso que papel de embrulhar prego.

Antigamente, para rebaixar alguém, dizia-se: “Fulano não vale um Cibazol!” Isso porque o Cibazol era um remédio popular, barato, mas tão prejudicial à saúde chega acabou proibido.

Certa vez, no balcão já encerado pelo tempo, um freguês questionou: “Cibazol, esse pastel é de hoje? – Não, esse pastel é de ontem. – E essa coxinha é de hoje? – Não, de ontem. – Como faço pra comer alguma coisa de hoje? – Venha amanhã.”

Quando lhe perguntavam a idade, ele respondia: “Não lembro, só sei que todo ano ela muda.” E emendava: “Quando a gente envelhece, o cabelo embranquece, o osso adoece, o joelho endurece, a vista escurece, a memória esquece, a gengiva aparece, a hemorroida engrandece, o bucho cresce, a pelanca desce, o possuído amolece, o bago padece, a mulher se oferece, e a gente agradece.”

Sobre gente invejosa, o velho Cibazol comentava: “Ninguém pode ganhar um riliquim de dinheiro que o povo já começa a chamar o cabra de boçal e coisa e tal!

Se alguém aparece na coluna social segurando um uísque escocês, logo dizem: ‘Outro dia era um Zé Ninguém; agora só quer ser as pregas, o rei das cocada preta!’ Se o sujeito compra um automóvel importado e blindado: ‘Novo rico é de lascar! Não tira nem o adesivo do para-brisa, nem os plásticos dos bancos.’

Ao ser visto em sua perua de energia elétrica, novinha em folha, lascam: ‘Ô, bicho besta, é só desfilando pra se amostrar!’ Se compra um apartamento na Beira Mar, maldam: ‘Só pode estar roubando! Até ontem vivia numa espelunca no cafundó do Judas.’ E se compra um flat na Praia do Beach Park: ‘Agora aloprou, vai ser preso!’

Até suas roupas, caras e compradas em lojas de luxo e com marcas estampadas do tamanho de um bonde, não escapam: são consideradas cafonas.

De fato, o melhor é não se importar com a língua ferina dos invejosos. Afinal, quem gosta de coisa ruim é barata e rato. E quem aprecia sofrer é masoquista!”

Assim era Cibazol, proprietário de um reduto de frases afiadas e filosofia típica da molecagem boêmia. Entre um gole e outro, uma roída na cajá, ele ensinava que viver bem é não dar importância a quem nada acrescenta de bom. Enfim, a vida é um grande balcão de bar: quem sabe rir dela, leva a melhor.

*Totonho Laprovítera

Arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.

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