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“Cid/Camilo/Elmano… ecos de um rompimento”

Nicolau Araújo é jornalista

“Camilo Santana pouco estaria ligando para o líder amado. Mas segue à risca a mesma cartilha de Maquiavel: se não amado, seja temido”, aponta o jornalista Nicolau Araújo.

Confira:

O suspense provocado pelos minutos de silêncio fora rompido por palavras ríspidas e batidas na mesa. Do outro lado da porta, assessores se esbarravam, enquanto um ou outro segurança buscava em seus ensinamentos o melhor procedimento nessa hora. Na sala, o governador do Ceará e um senador da República. Os gritos e as pancadas na mesa continuados garantiam que tudo seguia na sua normalidade. De repente, a porta se abre e o senador deixa a sala ainda aos gritos. Do lado de dentro, o governador rebate. E a reunião seguiu até que um deixou de ouvir a voz do outro.

O relato de quem testemunhou o encontro entre o governador Elmano e o senador Cid Gomes aponta não somente a tensão do que foi o rompimento entre os dois políticos cearenses, como ainda o despreparo de ambos na reunião que poderá definir os rumos do Ceará nos próximos anos.

O senador pode ter se preparado para discutir com o atual governador do Estado, mas não com o candidato a prefeito de Fortaleza, em 2012, ainda engasgado com a interferência do então governador na época, Cid Gomes, que resultou no fim de oito anos da administração municipal do PT.

O governador pode ter se preparado para receber o atual senador da República, mas não o articulador da então candidatura Camilo Santana, ao Palácio da Abolição, em 2014, e seus acordos políticos que definitivamente se encerram agora.

Cid Gomes é, talvez, a última liderança política no Ceará. Camilo Santana pouco estaria ligando para o líder amado. Mas segue à risca a mesma cartilha de Maquiavel: se não amado, seja temido.

“O temor é um sentimento poderoso e duradouro. Baseia-se no medo de represálias, na percepção de força e poder”, ensina Maquiavel (1469 – 1527). “Um príncipe amado pode se tornar odiado facilmente, caso suas ações não correspondam às expectativas do povo”, segue o ensinamento.

E Camilo então passou a acumular poder.

Envolvido politicamente com a sua “criatura”, Cid Gomes não atentou que Camilo também possuía outros manuais, a exemplo do estrategista general romano Júlio César (100 a.C. – 44 d.C.), quando é preciso primeiro dividir a força inimiga para depois conquistá-la. Em um conceito mais atualizado, temos novamente Maquiavel, na obra “A Arte da Guerra”, que sugere plantar a desconfiança dos homens que confiava. E assim se deu a separação dos irmãos Ferreira Gomes.

Mas o rompimento de Cid Gomes com Elmano/Camilo há de ter reflexos em 2026, quando o senador poderá deixar o PSB, partido presidido por Eudoro Santana, pai de Camilo, para ingressar em uma legenda mais centro-direita. Por certo, a candidatura de Cid não mais seria para a reeleição ao Senado, mas ao Palácio da Abolição, quando teria participação em debates, horário político e inserções. No atual contexto, Cid estaria entregue à própria sorte com a busca a uma reeleição a senador.

Com “doutorado” em uma escola de líderes, Cid percebe a tendência do avanço da direita, impulsionada pela vitória de Donald Trump à Casa Branca. E o discurso contra a esquerda começou a ser traçado com o seu distanciamento na reunião com Elmano.

O governador do Ceará não mais consegue ouvir os gritos de Cid Gomes. Mas isso não quer dizer que as palavras não ecoam…

Nicolau Araújo é jornalista pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido

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