“O que somente as vítimas percebem é que os erros não recaem sobre Sport, Fortaleza, Ceará, Vitória ou Bahia, mas, sim, sobre o Nordeste”, aponta o jornalista Nicolau Araújo
Confira:
Havia um tempo, e não faz muito tempo, que os clubes de futebol do Nordeste serviam tão somente para peça de reposição para as grandes equipes do Sul do País. Sem redes sociais e com uma cultura de Campeonato Carioca e Campeonato Paulista como grandes atrações em um único canal de televisão nas tardes do domingo – não havia canais por assinatura, tampouco Netflix – raro o torcedor nordestino que não soubesse de cor as escalações de Flamengo, Vasco, Corinthians, Palmeiras… E as camisas vendiam como água.
Patrocinadores não eram problema para os grandes do Sul, principalmente quando da iniciativa pública. Aos clubes do Nordeste, patrocinadores de empresas ou empreendimentos nos estados, quase sempre por meio de relações pessoais com dirigentes ou ainda quando torcedores.
Para não haver descontentamento, nada melhor que uma competição na “senzala”, a chamada Copa do Nordeste, sem premiações atrativas e tendo como reconhecimento uma participação em uma etapa avançada na Copa do Brasil.
Tudo funcionando direitinho com a conivência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Mas, eis que um então saco de pancadas Fortaleza, que se orgulhava em não ser goleado no Maracanã, no Morumbi ou no Mineirão decidiu profissionalizar sua diretoria e ousar por duas vezes ser a quarta melhor equipe do Brasileirão, além de duas inéditas Libertadores e um vice na Sul-Americana.
O “mau exemplo” passou a ser copiado por outras equipes da Região, ao ponto do recorde de cinco equipes nordestinas na elite do futebol brasileiro, em uma única temporada, como também é inédito o fato de dois times do Nordeste na Libertadores.
Mais do que resultados em campo sendo transformados em patrocinadores de porte nacional, cotas de transmissão de jogos e comércio de camisas e demais produtos, a economia nas cidades nordestinas é aquecida e o setor de serviços arrecada como nunca.
Ceará e Fortaleza e também Bahia e Vitória na elite do futebol brasileiro representam grandes torcidas em dobro nas capitais cearense e baiana. Com jogos na véspera de feriados prolongados, então, é quase uma alta estação.
Ganha Salvador, ganha Fortaleza, ganha Recife… perde o Rio de Janeiro, perde São Paulo, perde Belo Horizonte, como agora perdeu muito Curitiba. É a primeira lei do capitalismo: alguém ganha, alguém perde.
A continuar assim, é logo que o Brasileirão passará a contar com idas de grandes torcidas a Aracaju, João Pessoa e Natal, como em uma temporada passada foram a Maceió.
É onde entra o ajuste do VAR, uma espécie de controle populacional de clubes nordestinos no Brasileirão.
O crime cometido na Ilha do Retiro, nesse sábado (26 de abril), quando o VAR e um árbitro paulista não confirmaram um legítimo gol do Fortaleza, foi atenuado pela imprensa sulista como uma compensação ao Sport ao erro (proposital) da arbitragem contra a equipe pernambucana na partida diante do Palmeiras, no mesmo estádio. O que somente as vítimas percebem é que os erros não recaem sobre Sport, Fortaleza, Ceará, Vitória ou Bahia, mas, sim, sobre o Nordeste. A Região foi prejudicada na partida contra o Palmeiras e agora em um empate que não interessou nem a Fortaleza, tampouco o próprio Sport. Sem falar na marcação de um impedimento imoral que tirou o Prêmio Puskás de Moisés, no golaço contra o Internacional, no Castelão. Pudessem todos os jogos entre os times nordestinos com resultados de empate, seria o melhor dos mundos para as equipes sulistas. É matemática simples.
Sem uma lei que regulamente os poderes da CBF, quando o Estatuto do Torcedor é uma piada, clubes nordestinos continuarão a ser lesados por árbitros e pelo VAR. A Seleção Brasileira nunca foi de fato nacional, diante da ausência de atletas de clubes do Nordeste, Norte e Centro-Oeste, embora haja jogadores dessas regiões, mas menosprezados enquanto não deixaram suas origens. Hoje, a Canarinha é praticamente um puxadinho do futebol europeu. A perda do futebol arte é apenas uma das consequências da falência do sistema da CBF. As camisas amarelas sequer preocupam atualmente a Venezuela, sem nenhuma tradição no futebol mundial.
Com a certeza da não subida do CRB à Série A 2026, sendo o time alagoano o único representa do Nordeste atualmente na Série B, resta agora trabalharem o “restabelecimento da ordem” com o rebaixamento de dois times nordestinos, quisera três.
É só consultarmos o VAR…
Nicolau Araújo é jornalista pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido
Uma resposta
Simplesmente fantástico este artigo do qual destaco o CONTROLE POPULACIONAL…..
É onde entra o ajuste do VAR, uma espécie de controle populacional de clubes nordestinos no Brasileirão.