Como eu vou ser triste se….. – Por Mirelle Costa

Algumas pessoas logo aderiram, as marcas aproveitaram estrategicamente a trend para divulgar seus produtos, os artistas fizeram e o engajamento de muitos foi lá pra cima (com nossa contribuição gratuita e valorosa, claro!). E nós, pessoas “normais”, como ficamos?

Alguns demonstraram abuso pela mais recente “modinha”. Falou-se em positividade tóxica escancarada na gratitude. Eu, como sempre, fiquei a refletir. Nem sempre celebramos nossas conquistas. Acho importante e terapêutico olhar pra trás e, apesar de…. vermos pequenos (e grandes) acontecimentos que passaram por nossas vidas porque realmente temos dificuldade de olhar para as coisas boas. A grama do outro sempre é mais bonita, mesmo correndo o risco de ser sintética.

Gostei e me identifiquei, inclusive, com quem colocou “Como eu vou ser triste se” eu vi um pôr do sol maravilhoso, se estive com meus amigos, se celebrei a vida de quem eu amo…. Assim eu achei até legal, mesmo tendo me preocupado. Sim, porque a tristeza sempre chega, afinal, o filme “Divertida mente” bateu recorde de bilheteria ainda este ano e todo mundo já esqueceu a mensagem? A tristeza existe, gente, desde o primeiro filme e em nós também.

Pra mim, o grande problema da trend foi a forma como ela foi pensada. “Como eu vou ser triste, se…”. De imediato, eu já respondi:
Sendo

Eu não me esforço pra ser triste. A Tristeza sempre arranja um jeito de aparecer. A diferença é que eu não fico mais fingindo que ela não existe. Eu já cheguei a chamá-la pra tomar um café comigo. Parei para ouvi-la e entendi que a Tristeza até parece um pouco comigo. Ela é muito verdadeira, sabe que não precisa ser fake. Só aparece mesmo quando se vê necessária. Acho até ela chique, classuda. Ela sabe conviver bem com os sentimentos que muitos nem gostam. Ela é amiga do incômodo, mas não se dá muito bem com a ilusão. Acho que existe um ranço entre elas duas (momento fofoca). Ela também gosta de andar com a Raiva, mas essa amizade aí eu já não concordo, pois a impressão que tenho é que a Raiva se aproveita da Tristeza, sabe? Tira proveito dela, quer aparecer mais do que a Tristeza no rolê da vida. Às vezes, é a Tristeza que precisa de um momento de fala, mas a Raiva não deixa e a atropela, aí eu já não concordo. Acho a Raiva um pouco enxerida, mas não quero criar discórdia (logo com ela, hein?)

Um detalhe é que nós, o Mundo, queremos fazer rivais a Tristeza e a Alegria, assim igual Xuxa e Angélica, mas meu povo, nem elas se odeiam, acredita? Tô falando sério! Foi uma mentira que inventamos pra nós mesmos. Sempre existiu carinho e respeito entre as duas.

A verdade é que a Alegria e a Tristeza dividem o mesmo palco, o palco da Vida.

Se avexe, não! Podemos ser Tristes e Felizes, ao mesmo tempo.

Ainda bem que podemos!

Obrigada pela leitura.

Mirelle Costa: Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing. Possui experiência como professora na área de jornalismo para tevê e mídias eletrônicas. Já foi apresentadora, produtora, editora e repórter de tevê, além de colunista em jornal impresso. Possui premiações em comunicação, como o Prêmio Gandhi de Comunicação (2021) e Prêmio CBIC de Comunicação (2014). Autora do livro de crônicas Não Preciso ser Fake, lançado na biblioteca pública do Ceará, em 2022. Participou como expositora da Bienal Internacional do Livro no Ceará, em 2022.

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