Como nasce um livro? – Por Mirelle Costa

Esse é o primeiro questionamento que eu faço no meu curso, Escrita Artesanal. Eu explico que esse processo é individual (e solitário). Um livro pode nascer de um processo de descoberta (de si), de dor, mas sempre inicia com um movimento.

A jornalista Isabela Martin conta que, ao mexer em fotos antigas, sentiu vontade de transbordar para o papel tudo aquilo que sentia e não havia dito (ainda). “O ano era 2021. Logo após o aniversário de quinze anos das minhas filhas Joana e Juliana, comecei a escrever, no próprio celular, e não parei mais. Escrevi o “grosso” do livro quase todo em quatro meses e meio, depois o deixei marinando por uns dois anos, até que, em 2023, retomei para acréscimos e ajustes. No começo deste ano, finalizei o livro como um gesto de virada de página”, explica a autora da obra “A mãe que morreu em mim”, livro que fala sobre uma mutação genética que mudou a vida dela e de suas filhas gêmeas.

(Isabela Martin é jornalista. “A mãe que morreu em mim” é o seu primeiro livro)

Saber o momento de parar e dizer a si mesma/o que o livro está concluso é um verdadeiro exercício de desprendimento. Jogar o livro no mundo, ou seja, publicá-lo, é um ato mais corajoso ainda, pois, quando se entrega uma obra, ela não é mais sua, e sim, do leitor, que vai fazer julgamentos e apontamentos a partir de sua própria história de vida e visão de mundo.

Isabela Martin pôde sentir o retorno de seus leitores quando começou a publicar artigos sobre a temática da maternidade atípica que já anunciavam a vinda da obra. Abrir o baú de memórias foi terapêutico. “Os artigos publicados no portal Jangadeiro foram um teste à minha coragem, porque escrever nossa história é um ato de tremenda exposição, delas e nossa, os pais, uma auto-exposição, já que o livro conta toda a trajetória a partir das minhas lembranças e sentimentos. A aceitação e reação das pessoas que leram me encorajaram muito a seguir com a ideia de finalizar o livro. Desde o princípio, o ato da escrita tinha dois propósitos: a auto-libertação e a possibilidade de tocar, sensibilizar e até ajudar outras famílias que passam por situações difíceis, não necessariamente envolvendo questões de saúde, porque o livro trata de frustrações, decepções, dores, mas sobretudo é um testemunho de coragem e de superação de limites que as meninas têm para mostrar”, conta a diretora de jornalismo do Sistema Jangadeiro, que recebeu dezenas de comentários nas postagens veiculadas nas redes sociais.

(O livro está disponível na Amazon no link https://l1nk.dev/pSpSh )

As gêmeas Joana e Juliana nasceram com uma mutação genética rara, a Síndrome de Houge-Janssens 1, que provoca um atraso global no desenvolvimento e déficit cognitivo. A bravura percebida na obra reflete o comportamento que Isabela sempre teve na criação das filhas, ao blindar as crianças do olhar adoecido e da vitimização, escolha que fez diferença na forma como as filhas encaram e lidam com as dificuldades ao longo da vida. 2025 celebra o ano do lançamento do livro e da entrada das duas na universidade. Joana cursa Design Gráfico e Juliana Design de Interiores. “Um sonho que parecia impossível, mais um, começa a tomar forma. Quando comecei a escrever, lia todos os textos para elas. Às vezes, choravam. Às vezes, eu chorava também. Em uma das vezes, pedi que escrevessem algo sobre como se sentem. Dar a elas um tema aberto para discorrerem não é algo simples, é preciso ter algum direcionamento, fazer perguntas mais objetivas. O importante é o que se extrai das narrativas breves delas, que geralmente expressam alegria, gratidão, reconhecimento e, mais importante que tudo isso, nunca se colocam como vítimas. Obviamente que tudo que passaram e ainda encaram mexe com elas, com a auto-estima, com a segurança, e pode deixá-las tristes e frágeis em alguns momentos. Mas são guerreiras e a história delas mostra que o impossível existe para ser desmascarado”, emociona-se a escritora.
É o que eu digo, meu povo: Escrever, às vezes, é doloroso, mas liberta!

De olho na Bienal

O maior evento literário cearense começou e eu quero saber se você já foi. Ontem, sábado, passei o dia desfrutando as rodas de conversas, degustando os estandes repletos de obras e lambendo a minha cria, o “Não Preciso Ser Fake”, que está disponível na Quadra Literária por cinquenta reais. Até o dia 13, shows, mesas, oficinas e lançamentos vão movimentar o Centro de Eventos.

Escutar um aboio da Dina vaqueira, mestre da cultura, é algo sublime, que só a bienal consegue proporcionar.

(Rouxinol do Rinaré, cordelista, Dona Dina, mestre da cultura e a cordelista Julie Oliveira)
(Socorro Acioli, Andrea Del Fuego e Afonso Cruz lotaram o espaço Henriqueta Galeno. A mediação foi realizada (e elogiada) por Sávio Alencar)
(O que podem as palavras? Narrativas na contemporaneidade foi o tema da mesa)

Há pouco, participei de uma mesa onde discutimos os blogs literários e o jornalismo. Eu, Fábio Lucas e a jornalista Kelly Garcia apontamos caminhos para os periódicos modernos, a formação do público leitor na atualidade e as redes sociais na literatura.

(Eu, Mirelle Costa, Fábio Lucas e Kelly Garcia)

O lugar mais charmoso na Bienal (sim, sou suspeitíssima) é o espaço dos autores independentes, ao lado da Quadra Literária. Dezenas de escritores se revezam no espaço de venda de livros e bate papo sobre literatura.

Lançamento

Com muita alegria, convido vocês a estarem no lançamento da obra “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição”, um livro organizado por mim que traz vinte e duas histórias de mulheres vítimas de violência doméstica atendidas na Casa da Mulher Brasileira. A obra nasceu de um projeto aprovado no Edital das Artes, da Secultfor, pela Lei Paulo Gustavo. São 68 páginas de desabafo e esperança. O evento terá a participação da senadora Augusta Brito e do vereador Gardel Rolim.

Vocês estão convidadíssimos!!!!

Mirelle Costa: Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing. Possui experiência como professora na área de jornalismo para tevê e mídias eletrônicas. Já foi apresentadora, produtora, editora e repórter de tevê, além de colunista em jornal impresso. Possui premiações em comunicação, como o Prêmio Gandhi de Comunicação (2021) e Prêmio CBIC de Comunicação (2014). Autora do livro de crônicas Não Preciso ser Fake, lançado na biblioteca pública do Ceará, em 2022. Participou como expositora da Bienal Internacional do Livro no Ceará, em 2022.

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