“Período sabático é, portanto, uma época da vida que a gente tira para não ter obrigações, quando pode fazer essa escolha”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório.
Confira:
Não tem momento melhor na semana que o sábado de manhã. Acordando cedo ou tarde, tendo tarefas domésticas, ou não, as primeiras horas do sábado são muito deliciosas. Levar o carro pra lavar, o amigo canino pra tomar banho. Aproveitar umas promoções no mercado, caminhar na praia ou no parque, ler preguiçosamente na cama, ver um filme, em casa. Sem pressa. Não importa. Sendo no sábado, tem outro sabor.
O sábado é o dia guardado pela tradição judaica que virou símbolo de intervalo. Período sabático é, portanto, uma época da vida que a gente tira para não ter obrigações, quando pode fazer essa escolha. Faz bem pra saúde mental e é aconselhável que todos possam ter um sábado de meses, pelo menos uma vez nesta vida. Para lástima e confirmando as injustiças que assolam o mundo, muitas pessoas não têm nem acesso, sequer, ao básico sábado semanal.
Aproveitar intervalos com plenitude passa por nos assumirmos como merecedores de perdão, cuidado, folga existencial. Um amigo, do início da caminhada profissional, me contava, rindo, que viajou aos Estados Unidos, na adolescência, para mudar de cenário e livrar-se de opressões interiores. Desolado, percebeu ao chegar lá que havia se levado consigo mesmo. Sim, ele próprio, que sofria, foi junto na viagem. Ríamos bastante, embora a história não tenha muita graça…
Um outro amigo, do tempo da faculdade em Lisboa, recomendava que não nos aproximássemos naquele dia. Era um dia péssimo em que estava impossível de se aturar, até para si. Mais uma vez era um gracejo sem piada, porém, motivava gargalhadas e a mensagem para os dois era semelhante -noção imensa de que a maioria das coisas depende do que vai dentro de nós. Noção do que chamo de conseguir acessar o inconsciente, via consciente apurado, corajoso, perseverante.
Para o acesso necessário e sempre urgente, à viagem interior que é a mais ousada e a mais perigosa, temos que tirar umas férias mais prolongadas. Antes que os outros nos dispensem por insalubridade de convivência. Férias da gente, para conseguir chegar mais à gente. Parece contraditório. Só que não. É coerente e sábio. Considerem e façam planos nesse sentido. Preparem o orçamento, a mala de afetos e a compaixão. A máscara de oxigênio terá caído primeiro no nosso desconfiômetro. Para que possamos dar os braços aos demais.
Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS