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“Constatações de um viajante”

Ernesto Antunes é consultor de empresas e administrador. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Constatações de um viajante”, eis artigo de Ernesto Antunes, consultor empresarial do Sebrae e Senai e autor do livro “Empreendedorismo; Causos e Cases de Sucesso”.

Confira:

Em uma recente viagem de férias ao velho continente, algumas constatações me chamaram a atenção, principalmente no que diz respeito à grande disparidade entre o nosso Brasil e os países visitados, sobretudo em aspectos culturais, históricos e educacionais.

No aspecto cultural, destaco o patriotismo presente nesses países, onde sentimos o orgulho das pessoas em enaltecer seu torrão natal, com bandeiras tremulando em todos os locais turísticos. Na Holanda, por exemplo, seja em um museu ou em um passeio de barco pelos canais de Amsterdã, lá está a bandeira tricolor tremulando, identificando o local onde estamos desfrutando do momento. Aqui no Brasil, no entanto, existe uma corrente que critica o uso da bandeira nacional.

Não podia deixar de constatar também a valorização dos prédios históricos, museus e monumentos públicos, que permanecem preservados e intactos aos olhos dos turistas. Esse choque de realidade é especialmente forte para nós, que vivemos no Brasil e, particularmente, no Ceará. Exemplos disso são os poucos museus ainda existentes, como o interessante Museu do Ceará, localizado no Centro da cidade, que está fechado para reforma há mais de dois anos, ou o majestoso Farol do Mucuripe, que foi negligenciado pelo poder público e hoje serve para abrigar marginais. Antigamente, no local, existia o Museu do Jangadeiro, que celebrava os feitos do grande Dragão do Mar.

Outro choque de realidade foi em relação à oferta de transportes públicos novos, funcionais e pontuais. No Porto, Paris e Amsterdã, não precisávamos depender de UBER ou táxis, contribuindo para a melhoria do meio ambiente e a tão propagada sustentabilidade, com menos poluição no ar. Aqui no Ceará, andar de metrô ou em transporte público de qualidade é um sonho que já dura mais de 20 anos, com promessas que nunca se concretizam. Não acredito que minha geração desfrutará dos deslocamentos da Linha Leste, que atualmente interdita a importante Avenida Santos Dumont.

Em termos de lazer e atrativos turísticos, a Europa oferece inúmeras atrações, como o zoológico com um gigante aquário que visitei, onde pude observar os animais de perto. Já no Ceará, não temos para onde levar os filhos pequenos, pois o nosso zoológico continua fechado para reforma, iniciada em 2023, e sem previsão de reabertura.

Como leitor de livros, revistas e jornais, fiquei impressionado com a maneira como as livrarias e bancas ainda sobrevivem, mesmo com o avanço do mundo digital. O ex-reitor da UFC, Jesualdo Farias, durante nossas andanças por Paris, comentou que na Europa houve um fenômeno curioso: as livrarias voltaram a abrir e as vendas de livros e jornais impressos aumentaram. Isso prova que o mundo pode conviver muito bem com o impresso e o digital. No Brasil, leio notícias em blogs como este e em jornais impressos, mas, infelizmente, estamos caminhando para trás quando se trata de leitura de qualidade. Uma pesquisa recente publicada na Folha de São Paulo revelou que apenas 15% da população brasileira lê publicações de conteúdo relevante. Triste realidade para o futuro das gerações.

Fiquei também impressionado com a qualidade de vida das pessoas nos países visitados. Em nenhum momento percebi a presença de mendigos ou pedintes. Em Fortaleza, porém, ao passar pela Praça do Ferreira, um ponto turístico da cidade, deparei-me com uma grande quantidade de mendigos e desocupados, ocupando o espaço com colchões e redes armadas, muitas vezes acompanhados de cachorros, gatos e até papagaios. Será que em outros países, onde o populismo não é a prioridade, isso seria possível? O fato é que não vi nada parecido, e o poder público parece fechar os olhos para essa triste realidade.

Os preços de tudo o que consumi também me chamaram a atenção. A razão é simples: nossa moeda tem se desvalorizado dia após dia. A vida de turistas brasileiros ficou muito cara e até fora da realidade. Imagina tomar um café por 5 euros, o que, ao ser convertido, ultrapassa os 30 reais. Isso tudo é resultado de uma política econômica equivocada. Estamos perdendo mão de obra jovem muito cedo, com inúmeros jovens recém-formados rumando para o velho continente para trabalhar em empregos que exigem baixa qualificação, como em restaurantes, lanchonetes e serviços de UBER. Eles relatam que faltam empregos em suas áreas de formação ou que não são remunerados adequadamente. Indaguei um desses brasileiros, formado em Biologia, que atualmente trabalha como atendente de lanchonete no Porto.

Também constatei nosso atraso em relação às tecnologias e à agilidade nos processos. O custo Brasil ainda é muito elevado para empresários e novos empreendedores, principalmente devido ao alto custo trabalhista. Em alguns países, já não existem mais profissionais em postos de combustível, supermercados ou lanchonetes, pois praticamente tudo é automatizado. Embora o Brasil tenha avançado em algumas áreas, isso ainda ocorre de forma incipiente.

Em Amsterdã, também observei manifestações civilizadas, onde as pessoas lutam pelos seus direitos ou se opõem a aumentos de impostos considerados indevidos. No Brasil, ainda somos uma população passiva, que aceita e, em muitos casos, aplaude aumentos de tributos ou acredita em promessas mirabolantes que nunca são cumpridas.

Portanto, vivemos em um país maravilhoso, apesar de todas essas constatações. No entanto, precisamos olhar para o futuro e não continuar sendo eternamente um país em desenvolvimento, abençoado por Deus, mas com a necessidade urgente de mudanças estruturais.

*Ernesto Antunes

Consultor Empresarial do Sebrae e Senai e autor do livro “Empreendedorismo: Causos e Cases de Sucesso”.

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Respostas de 4

    1. Parabéns pelo relato Ernesto! Sempre voltamos saudosos a nossa rica terrinha mas é inevitável comparar como ainda levaremos dezenas, quiça centenas de anos para contemplarmos o nível de ” civilidade” e patriotismo do outro lado no antigo continente.

  1. Excelente artigo, é uma importante reflexão para os nossos governantes!

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