Com o título “Cooperativismo e COP30: da retórica à ação concreta”, eis artigo de Benedito Machado, jornalista, editor-chefe da plataforma de comunicação cooperativista Coopere Mais — cooperemais.com.br. “A COP30 não pode repetir o erro das edições passadas: converter-se em um palco de boas intenções sem continuidade. O mundo não precisa de novas resoluções simbólicas, mas de políticas aplicáveis, mensuráveis e verificáveis”, expõe o articulista.
Confira:
A COP30, marcada para ocorrer em novembro de 2025, em Belém do Pará, representa mais do que um encontro diplomático sobre o clima — ela é um divisor de águas para a credibilidade global na luta contra as mudanças climáticas. À medida que o planeta enfrenta recordes de temperatura, desmatamento e crises socioambientais, cresce a necessidade de abandonar discursos vazios e avançar para práticas efetivas. Nesse cenário, o cooperativismo surge como uma via promissora para unir desenvolvimento econômico, justiça social e sustentabilidade ambiental.
O cooperativismo, por essência, propõe um modelo de economia baseado na colaboração, na participação democrática e na distribuição justa dos resultados. Diferente de empresas guiadas exclusivamente pelo lucro, as cooperativas colocam as pessoas e o meio ambiente no centro das decisões. Esse princípio é vital num mundo que insiste em enxergar a natureza como um recurso infinito. A COP30, portanto, oferece uma oportunidade única para que o movimento cooperativista se afirme como protagonista na transição ecológica que tanto se discute e pouco se pratica.
Entretanto, para que o cooperativismo ganhe relevância real no debate climático, é preciso superar o abismo entre o discurso e a ação — um problema que tem caracterizado as últimas conferências do clima. As promessas de neutralidade de carbono, os compromissos de reflorestamento e as metas de energia limpa, muitas vezes, esbarram na ausência de mecanismos concretos de execução. São planos que soam bem em comunicados oficiais, mas que falham em transformar realidades locais. É aqui que o modelo cooperativo pode mostrar sua força: ao articular comunidades, produtores e consumidores em torno de soluções tangíveis e descentralizadas.
Um exemplo emblemático é o das cooperativas da agricultura e de energia renovável. Quando produtores rurais e agricultores familiares se unem em cooperativas para produzir alimentos, ou quando comunidades rurais geram sua própria energia solar, o impacto é direto, mensurável e sustentável. Não há intermediários financeiros sugando recursos, nem promessas vagas de compensação de carbono. Há, sim, um novo paradigma econômico em prática — inclusivo, eficiente e coerente com a urgência climática.
Mas o cooperativismo, para contribuir de fato com a agenda da COP30, precisa também olhar para dentro e se reinventar. É necessário incorporar tecnologia, governança transparente e indicadores de impacto ambiental e social. Cooperativas que se fecham em modelos antigos e pouco inovadores correm o risco de se tornarem irrelevantes. Sustentabilidade, no século XXI, não é apenas conservar recursos, mas também gerar valor compartilhado com eficiência e ética.
Ao mesmo tempo, os governos e organismos internacionais devem enxergar as cooperativas como parceiras estratégicas, e não apenas como iniciativas locais de assistencialismo. Políticas públicas voltadas para o fomento do cooperativismo verde — com crédito acessível, capacitação técnica e incentivos fiscais — podem transformar empreendimentos comunitários em agentes robustos da economia de baixo carbono. Esse tipo de ação concreta tem potencial para gerar impacto real, diferentemente das declarações genéricas e das promessas longínquas que têm marcado as conferências anteriores.
A COP30 não pode repetir o erro das edições passadas: converter-se em um palco de boas intenções sem continuidade. O mundo não precisa de novas resoluções simbólicas, mas de políticas aplicáveis, mensuráveis e verificáveis. Nesse contexto, o cooperativismo oferece algo que falta às grandes corporações e aos governos centrais — a capilaridade e a confiança das comunidades locais. É na base, onde a realidade da mudança climática é vivida diariamente, que as soluções mais eficazes podem florescer.
Por fim, é essencial compreender que o combate às mudanças climáticas é também um projeto de reconstrução social. E o cooperativismo, com seus valores de transformação, autogestão e responsabilidade coletiva, fornece o alicerce ético e prático para essa reconstrução. A COP30 será um marco histórico apenas se conseguir integrar esses valores em ações efetivas — transformando o discurso global em compromissos locais e as promessas em resultados palpáveis.
Em suma, o futuro da sustentabilidade dependerá da capacidade de unir propósito e prática. O cooperativismo, ao articular pessoas em torno de metas comuns e sustentáveis, mostra que é possível fazer diferente. Cabe à COP30 — e a todos os seus participantes — ouvir menos o eco das promessas e enxergar mais o exemplo concreto das cooperativas que já constroem, todos os dias, um mundo mais justo, colaborativo e viável.
*Benedito Machado
Jornalista, editor-chefe da plataforma de comunicação cooperativista Coopere Mais — cooperemais.com.br