Categorias: Artigo

“Cuide da IA antes que ela não cuide mais de você”

Mauro Oliveira é professor do IFCE

Com o título “Cuide da IA antes que ela não cuide mais de você”, eis artigo de Mauro Oliveira, professor do IFCE e PhD em Informática (Sorbonne University).

Confira:

Jogar garrafa pet pela janela do carro, dirigir usando o celular, andar tranquilo na pista de frenéticos ciclistas… Coisas do cotidiano que nos mascaram o óbvio. Esse desatino cultural do óbvio atinge também os “metidos”. O jornal O POVO (05/09/24) publicou que Martha Gabriel, respeitável futurista, teria dito que “a Inteligência Artificial (IA) não substituirá pessoas, mas exigirá rápida adaptação”.

Martha e outros “respeitáveis especialistas” com pouca leitura em IA têm prestado um desserviço à sociedade à medida que relativizam um possível “tsunami” digital prestes a “inundar” o Planeta Azul (Alô Houston, manchas esparsas de fumaça) com prioridade às sociedades despreparadas.

Pensar que a IA Generativa (essa aí do ChatGPT e concorrentes) não passa de uma simples evolução tecnológica da IA é desconsiderar o óbvio, parecido com “andar tranquilo na pista de ciclista frenéticos” … na contramão (e vá reclamar … rsrsr).

Muitos ouviram falar, alguns chegaram a usar e pouquíssimos, como Martha e outros desavisados, entenderam a tecnologia revolucionária que, pela primeira vez, agrega o substantivo criatividade à IA. Esta tecnologia, que responde pela alcunha de Arquitetura Transformer (paper “Attention is all you need”, Google, 2017), fez chegar a IA à mão dos terráqueos, também pela primeira vez, a exemplo da web, nos anos 90, ao popularizar a internet.

Diferentemente da Alexa, da Siri e de outros assistentes da “velha IA”, o ChatGPT da OpenIA, o Gemini da Google e outros da “nova IA” criam (do verbo criar) respostas ao consultarem, estatisticamente, um conhecimento universal disponibilizado por milhões de humanos na internet e escambau. Ou seja, não é o ChatGPT quem erra, “meu fi”, é a sua pergunta (prompt) que foi mal alaborada.

Ao ouvirem “respeitáveis especialistas” o perigo é que lideranças, governantes e demais responsáveis pela gestão da sociedade também relativizem esse “tsunami a caminho”. Neste contexto, é imperdoável que as universidades, idealizadas para estarem à frente da sociedade, se omitam e continuem a “dar milho aos pombos” na formação de seus jovens, futuros líderes, governantes da Terra Brasilis.

O erro matemático e logocêntrico da Martha Gabriel (ainda acho que ela não disse isso) é não perceber que a taxa de variação (uma tal de “derivada” disputada por Newton e Leibniz no século XVII) com que a IA Generativa vai fazer desaparecer funções humanas é bem maior (bota maior nisso) do que a capacidade que escolas, entidades, empresas terão para as “rápidas adaptações” que ela propõe.

Como diz meu amigo Karlos Marxes, garçom do Cantinho do Frango, desde a Revolução Industrial a corda só rói pro lado que ela rói … rsrs!

Um estudo realizado pelo Fórum Mundial de Economia de 2023 sobre o que acontecerá a 100 tipos de profissões em 2027 diz: 39% delas não precisarão de treinamento, 61% serão afetadas. Profissões que dependem de conversa mole, informação em Bando de Dados (Call centers, por ex.) e/ou de conhecimento (advogado, psicólogo, jornalista, professor etc.) tão lascadas. Já o setor que envolve ação físico-motora ficou fora … por enquanto (olha a robótica tentando aí uma de “Jetsons” com a tecnologia Gêmeos Digitais). E agora, José?

Lideranças empresariais e governamentais da Europa, EUA e Ásia estão preocupadas e tratando este “tsunami” digital. De repente, sistemas de IA vão chegar de supetão, sem avisar, como a startup Klarna, da Suécia, que substitui 700 agentes de conversação, em 06/mar/24, com desempenho melhor (2,3 milhões de interações com o cliente) que a ação humana substituída.

Em dezembro de 2023, o governo do Reino Unido convidou seus cidadãos a “refletirem sobre o futuro” a partir de duas listas, uma com profissões vulneráveis a IA, de uma forma geral, e outra afetada pela IA Generativa (a do ChatGPT).

Não é à toa que o Prêmio Nobel de Física 2024 foi para os cientistas GeoƯrey Hinton e John Hopfield, responsáveis por invenções, como o Aprendizado de Máquinas, que estabeleceram as bases da atual Inteligência Artificial.

É ou não uma boa dica de uma Política Pública para o futuro prefeito de Fortaleza?

Seguem cinco “conseils” do empresário e futurista Stéphane Amarsy na conferência “Le futur est déjà là, em junho de 2024:

  • Colaborar com a IA… por enquanto (já que não se conhece o futuro);
  • Abandonar as crenças… se vc pensa que sabe tudo, vc está errado; se vc acha
    que já chegou, está perdido;
  • Valorizar as qualidades humanas… é a nossa diferença;
  • Organizar-se de forma diferente… o chefe da equipe, o gerente de projeto, o
    CEO da empresa poderão ser uma IA (isso já existe);
  • Viver o “antifrágil”… amanhã vai ser diferente e é preciso se preparar.
    Acorda, universidade!
    “Os analfabetos do século XXI são aqueles que não sabem aprender, desaprender
    e reaprender” (Alvi Tofler, Terceira Onda, 1980).

*Mauro Oliveira,

Professor do IFCE e PhD em Informática (Sorbonne University).

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Esse website utiliza cookies.

Leia mais