“O desafio de ser pessimista no País do Carnaval”, aponta o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto, Confira:
Dizia Tom Jobim que o “Brasil não era para principiantes”. Não é, de fato. Nem mesmo para observadores “sêniors”. Incluo-me entre estas desafortunadas criaturas que não conseguem entender o que se passa neste solo gentil. E olhem que né tenho esforçado neste grave mister.
Refiz a contabilidade, provavelmente já vencida, das pendências sobre o meu entendimento sobre o Brasil. Ou melhor, dos males que nos afrontam — por culpa nossa ou responsabilidade alheia.
Vou desembuchar as minhas inquietações que despertarão, certamente, objeções e acertos necessários por quem entende, mesmo, de Brasil.
Dividimos-nos entre interesses e personagens desprezíveis. Os males-maiores atraíram-se. Do passado, guardamos arrependimentos e vergonhas dissimuladas. Do presente, dúvidas e incertezas; do futuro, maus augúrios celebrados por antecedência, por serem justamente pressentimentos e augúrios anunciados.
Tais reflexões, insólitas e reprováveis, recebem a condenação das pessoas de bem.
Há os que tudo reduzem a piadas e galhofas. Há os que apontam o pessimismo, as falas das pessoas negativas de quem devem afastar-se. Há os que se omitem por conveniência e os que se calam por preguiça cidadã.
Como se pecado venial fosse olhar o mundo pelas lentes claras da percepção — e indignar-se com o que vemos, ouvimos e dissimulamos com o nosso silêncio.
Pois bem, vamos de olhos postos no que vemos, não no que “queremos” ver. Vamos descobrir o que se esconde da nossa crítica. Se a este método de encarar a realidade chamar-se pessimismo, que assim seja.
Teórica e nominalmente estamos na vigência de um governo “progressista”e “popular”, seja o que estes adjetivos possam significar. Por ser assim, depreende-se que os timoneiros desta arriscada navegação de cabotagem têm como ideias suas princípios e entendimentos que trouxeram dos exercícios alongados de persignação ideológica anterior, embebidas em redução doméstica, a retalho, para uso imediato.
Na educação, fizeram profissão de fé em favor da educação pública. Nestes 12 ou 15 anos de de progressismo atuante a rede escolar pouco mudou e a relação com a iniciativa privada nada mudou quanto à população escolar. A expansão da rede privada de educação superior não só manteve o ritmo de vinte anos atrás, como cresceu significativamente [o MEC dispõe dos dados que conferem credibilidade ao que se afirma aqui].
Programas de financiamento criados pelo governo sobre rubricas orçamentárias várias (FIES, PROUNI e outros) asseguram a criação de novos cursos particulares e a expansão dos existentes. bem assim a transformação de faculdades isoladas em centros universitários e universidades. Os critérios de expansão do setor privado seguem as tendências do mercado; não poderia ser de outra forma.
A privatização da educação superior estaria a realizar-se com recursos público-privados?
As “grandes” reformas (já foram chamadas pelo Brizola de “reformas de base”…) serão conduzidas pelo método de cooptação ideológico-financeiro, mediante PECs negociadas no atacado e no varejo?
Por quem os sinos dobram no plano da diplomacia internacional do ministro Amorim ? Na linha Xing Ping, com Pútin ou com os Emirados e Sultanatos do Oriente Médio ? E como integraremos as ditaduras no fluxo dos nossos investimentos externos?
Lula é socialista, progressista, comunista ou “arrivista”?
E qual será o próximo tropeço político, familiar ou policial de Bolsonaro? Anéis, joias, hospedagem em embaixadas, denúncias e chantagens de delatores premiados?
Quando o Congresso Nacional, empurrado pelos “juristas” das CPI e pelo juízo atormentado da mídia, descobrirá que os seus integrantes exercem mandato com duração certa e dispõe de competências constitucionais, projeção da representação que exercem dos eleitores?
Quando os juízes da Egrégia Corte cuidarão do que lhes toca, reconhecidamente, por competência originária, das questões de ordem constitucional que alcançam os poderes republicanos ?
Quem nos dirá sobre o que podemos falar, sobre os artifícios lógicos que podemos empregar, sobre quais limites do discurso e da fala serão tolerados? Quem nos prevenirá, a tempo, sobre o risco de crimes futuros que, pelo nossos biotipo e pelo perfil do caráter, poderemos praticar “sponte nostra” em futuro “ad infinitum”?
“Potes expectares ad voluntatem”, diria um juiz de elevada instância diante da insatisfação dos reclamantes.
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC