“Muitos desses empreendimentos devem se instalar em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), o que significa isenção de impostos de importação e exportação, além de benefícios adicionais concedidos pelo Estado”, aponta o engenheiro e economista Marcos Holanda
Confira:
Na procura pelo desenvolvimento temos insistido na descoberta de projetos que alavancariam de forma repentina o patamar econômico do estado. Refinaria, siderúrgica, transnordestina, hub aéreo, polo automotivo, hidrogênio verde já fazem uma longa lista. Temos agora um novo candidato, os data centers. Uma característica comum é muita promessa de investimentos e pouca realização de PIB.
Diferente do hidrogênio verde projetos de data center são economicamente viáveis e com maior capacidade de gerar benefícios para a economia local. Seus impactos, no entanto, serão menores que a propaganda oficial e especialistas de plantão propagam.
À primeira vista, os data centers parecem simbolizar o futuro: infraestrutura de alta tecnologia, associada à economia digital e à inteligência artificial. A questão fundamental é saber se eles vão apenas exportar serviços para o exterior ou vão ser instrumento para gerar valor agregado na economia local.
Um ponto interessante é que os data centers vão competir com o hidrogênio verde na demanda por energia renovável tornando o segundo ainda mais inviável. Na prática data center e hidrogênio são mecanismos de exportação de nossa energia sendo que o primeiro tem custo de produção e transporte bem menores e por consequência vai predominar. Aqui um alerta, exportar energia pode gerar riqueza para empresas, mas dificilmente para a economia.
A construção de um grande data center gera muitos empregos temporários, mas uma vez operando, a realidade é diferente. Estimativas internacionais apontam que um data center típico gera entre 0,5 e 1,5 emprego permanente por megawatt (MW) instalado. Ou seja, uma instalação de 100 MW — de porte significativo — manteria algo entre 50 e 150 empregos diretos de longo prazo. Pouco, considerando o volume de investimento envolvido.
Além disso, a maior parte dos insumos e equipamentos é importada, desde os servidores e sistemas de refrigeração até os softwares de gestão. E o serviço final, o processamento e armazenamento de dados, será exportado, beneficiando empresas e consumidores em outras regiões do mundo. Assim, o impacto na economia local deve ser limitado. A contribuição fiscal tende a ser modesta. Muitos desses empreendimentos devem se instalar em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), o que significa isenção de impostos de importação e exportação, além de benefícios adicionais concedidos pelo Estado. Na prática, o Ceará cederá sua energia renovável barata e sua infraestrutura, mas pode captar pouco retorno econômico direto.
Em resumo, os data centers são uma realidade irreversível, temos sim que aproveitar nossas vantagens comparativas nessa área, devemos sim atraí-los, mas não serão uma solução mágica para nosso desenvolvimento. Nossa grande estratégia de desenvolvimento deve ser baseada na oferta local e não na exportação de energia barata para o agro, indústria e serviços e na inovação alimentada pelo uso local dos data centers.
Marcos C Holanda é engenheiro e PhD Economia