Com o título “Data Centers serão o novo hidrogênio?”, eis artigo de Marcos C. Holanda, engenheiro civil e PhD em Economia e ex-presidente do Banco do Nordeste. “A estratégia correta do governo deveria focar em políticas e programas que permitam que os serviços de IA e cloud dos data centers sejam consumidos localmente e não exportados. Isso não se faz com regulação impositiva, mas via mercado. Precisamos criar os incentivos corretos para desenvolver e atrair inovadores pessoa física e jurídica que criem negócios nesse novo mundo da IA”, expõe o articulista.
Confira:
Serão os data centers o novo hidrogênio? Uma solução mágica que vai viabilizar a redenção econômica e social do Estado. Semelhante aos projetos de hidrogênio, os data centers envolvem investimentos bilionários e empolgam os políticos e empresários. Da mesma forma, surgem do potencial de energias renováveis que o Estado possui. Infelizmente, assim como no caso do hidrogênio, terão impacto pequeno no PIB, na gerarão de empregos diretos permanentes e pagarão poucos impostos.
Data centers são intensivos em capital e não em mão de obra, tem insumos de infraestrutura física e de equipamentos quase toda importada e, em exportando seus serviços, vão pagar poucos impostos ao governo.
Assim como nos projetos de hidrogênio demandam uma quantidade monumental de energia e água, algo que o Estado ainda não tem. Já temos um estoque relevante de energia solar e eólica, mas temos o gargalo das linhas de transmissão. Por outro lado, temos que entender que essas energias só são baratas e competitivas quando faz sol e temos vento. Quando anoitece e os ventos ficam fracos, elas desaparecem e seus preços vão ao infinito.
Como consolidar o potencial de energia do estado? Temos defendido a ideia de que o Ceará deveria concentrar seus esforços na construção de um hub diferente que seria um hub de gás natural. Só com esse hub teríamos condição de oferecer energia suficiente e 24hs por dia para potenciais investimentos em data centers. Um pilar importante para um novo modelo de desenvolvimento do estado é a oferta de energia barata e não necessariamente 100% verde.
Felizmente, diferente do hidrogênio, os data centres já tem demanda de mercado garantida, precisam de menos subsídios, já tem tecnologia consolidada e tem demanda futura que cresce de forma exponencial. Temos sim condições de entrar nesse mercado, mas temos que ser realistas.
A estratégia correta do governo deveria focar em políticas e programas que permitam que os serviços de IA e cloud dos data centers sejam consumidos localmente e não exportados. Isso não se faz com regulação impositiva, mas via mercado. Precisamos criar os incentivos corretos para desenvolver e atrair inovadores pessoa física e jurídica que criem negócios nesse novo mundo da IA. O valor e o PIB que tanto procuramos está no uso local desses equipamentos e não na sua construção ou exportação de seus serviços.
Frustra-me, no entanto, tanta empolgação com projetos novos, com o mais recente de “letramento digital”, e tanta complacência com o fato de somente um em cada dez jovens terminar o ensino médio com notas adequadas em matemática e dois em cada dez em português. Como vamos competir nesse novo mundo?
*Marcois C. Holanda
Engenherio civil e PhD em Economia e ex-presidente do Banco do Nordeste.