“DataFolha abate 4 pontos de André Fernandes”

“Erros acontecem, mas uma insistência coincidência escolhe os candidatos da direita como vítimas desses equívocos”, aponta o jornalista Luciano Cléver.

Confira:

O DataFolha, que já teve mais credibilidade e menos erros, tropeça nos próprios números e subtrai quatro pontos de André Fernandes em sua mais recente pesquisa que indicou empate técnico: André 45% x 43% Leitão. O correto, pelos números internos de nichos, seria 49% a 42% pró André, amentando para sete pontos a distância para o segundo colocado. Fora o estranhíssimo fato de apontar queda nos dois candidatos. Como se os votos de um de outro fossem para o limbo. 

Vamos aos números. Na edição deste sábado, o jornal O Povo, que contratou a pesquisa, revela a intenção de votos daqueles que escolheram entre Lula e Bolsonaro na eleição presidencial de 2022. Quem votou em Lula se divide assim: 70% preferem Leitão, enquanto 19% vão de André. Já entre os eleitores de Bolsonaro, 91% votam André. Leitão fica com 4%. André também ganha entre os enquadrados como voto em branco, nulo ou nenhum. Neste grupo, André conquista 39%, apenas 11% se decidem por Leitão. 

Na radiografia dos números, encontra-se o erro fatal do instituto. Lula conquistou 58% dos votos no segundo turno das eleições de 2022. Bolsonaro, 41,8%. A soma de brancos, nulos e nenhum resulta em 3,88%. Os 70% amealhados por Leitão entre os lulistas correspondem a 40%. Já os 4% conquistados entre os bolsonaristas somam 1,6%. Some ainda 0,4% dos 11% da preferência entre quem votou em branco, nulo ou nenhum, dá (40 + 1,6 + 0,4 =) 42%. No agregado, o Datafolha acrescentou mais 1, pois indicou 43% no resultado final. 

Já em relação a André, mais uma vez, há uma enorme quebra nos números. Os 19% da preferência entre os lulistas para o candidato do PL resultam em 11%, que se somam a 37%, resultantes da intenção de votos dos que escolheram Bolsonaro presidente. Junte 1,5% dos branco/nulo/nenhum, e teremos (11 + 37 + 1,5 =) 49,5%. Portanto, é o DataFolha, na apuração de seus próprios números, que prova o erro do DataFolha no resultado final de sua pesquisa. 

Não é a primeira vez que isso ocorre. Erros acontecem, mas uma insistente coincidência escolhe os candidatos da direita como vítimas desses equívocos. Não vou falar nem daquela pesquisa que tirou Heitor Férrer do segundo turno no pleito em que Roberto Cláudio consagrou-se prefeito de Fortaleza pela primeira vez. 

Falo da pesquisa ainda no primeiro turno, que apontou falso resultado de 33% para André. Urnas abertas, o resultado foi de 7 pontos percentuais acima do que prognosticara o instituto. Não chegou a cravar o resultado de Leitão, mas ficou no limite da margem de erro (31% x 33%). Isso também denota erro, mas não tão grosseiro quanto os cometidos em relação a André Fernandes. 

Apontei aqui outro erro crasso na primeira pesquisa do segundo turno. De novo, os números estratificados em relação à migração de votos dos candidados derrotados colidiam com os do resultado final. 

Erros e falhas do DataFolha estão se repetindo de forma a lhe minar a credibilidade do Instituto. De quebra, pode também contaminar a reputação do contratante. Data Cléver adverte: as pesquisas, nesse ritmo, vão anunciar, em breve, a virada de Leitão sobre André Fernandes. Sem nenhum fato que justifique. As de agora apontam empate para, ao fim, naturalizar a “virada”.

Luciano Cléver é jornalista