“A recuperação dos foros democráticos e das formas constitucionais de governabilidade depende, nos países carecidos desses meios de organização do seu sistema político, unicamente do nível de consciência política do povo e da sociedade”, aponta em artigo o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto. Confira:
O que significa, de fato, a categorização ideológica, política, vá lá, de “direita” e “esquerda”, no Brasil?
A esquerda sobreviveu nas asas do populismo, saída de um festival de alianças inconfessáveis, no presente e agora. Fora alguns militantes que andaram a ler orelhas de livros condenados e a ouvir pregações bolcheviques envelhecidas, restaram desse ativismo grupos resilientes abrigados pelo Estado.
A direita não merece sequer atender por essa designação: é feita de um liberalismo mal acondicionado pela classe média orgânica e por algumas lideranças que perderam o bonde da esquerda, destituídas de ideias e de força militante, a rabiscar minutas de táticas de assalto ao poder, como se fosse um jogo lúdico de guerra-naval.
A restauração das franquias democráticas, arrancadas patrioticamente em nome da “democracia” e dos princípios de direito essenciais, é, no Brasil, um desafio que exige forças temperadas pelo compromisso com a liberdade e a justiça.
Não há como recompor o estrago feito, em algumas décadas, no edifício precário das nossas instituições, com governos saídos de velhas alianças persistentes, paridos pelas oligarquias e contidos pela força castrense. Não com essa trupe de truões de uma farsa ideológica divertida dividida entre o totalitarismo da direita e da esquerda.
A recuperação dos foros democráticos e das formas constitucionais de governabilidade depende, nos países carecidos desses meios de organização do seu sistema político, unicamente do nível de consciência política do povo e da sociedade.
Liberdade, Justiça e democracia, como afirmou um destacado membro da nossa magistratura, em seus devaneios filosóficos, não se pede — conquista-se. Não pelas armas contingentes, menos ainda pelos “hackers”mercenários das redes sociais, mas pelo nível de consciência política que anima e induz os cidadãos no exercício do seu voto, à afirmação da sua escolha.
Seymour Lipset, cientista político, behaviorista, americano afirma repetidamente em celebrados escritos que a democracia “é um mecanismo social para a tomada de decisões na sociedade perante grupos de interesse em conflito que permite à maior parte possível da população de influenciar tais decisões pela capacidade de escolher entre alternativas de candidatos…”
Para tanto, pondera Lipset evocando Weber e Shumpeter, algumas condições devem ser estabelecidas:
a)uma fórmula política, um sistema de crenças que legitime o sistema democrático e que especifique as instituições — partidos, imprensa livre e assim pur diante — que são legitimadas, isto é, aceitas por todos;
b) um conjunto de líderes políticos no exercício da administração pública;
c) um os mais grupos de líderes, fora da administração, que hajam como oposição ilegítima na tentativa de tornar-se governo”.
O absolutismo cortava cabeças para governar. A democracia conta as cabeças como pressuposto da governabilidade…
A diferença está no gume do alfange e na mão que o maneja…
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC