“Dentadura e Pipocracia”

Totonho Laprovítera é arquiteto e escritor. Foto: Reprodução

Com o título “Dentadura e Pipocracia”, eis mais um conto de Totonho Laprovítera, arquiteto, escritor e artista plástico.

Confira:

“Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.”
(Rubem Alves)

Lembro da cena de um filme em que o personagem interpretado por Lima Duarte, deitado, esticava o braço para alcançar uma rapadura pendurada no ripado do telhado, apó s sacar sua dentadura postiça da boca para roer. Mas afinal, o que tem a ver dentadura com democracia?

Para começar, por incrı́vel que pareça, os medı́ocres têm conseguido dominar os inteligentes por meio de manipulação psicológica, aproveitando-se de suas inseguranças e minando sua autoconfiança. Isso inclui estratégias como ridicularização, minimização de conquistas e intimidação. A formação de pactos
fortalece seu controle, fazendo uso de pressão social e segregação. Essa dominação ocorre devido à falta de assertividade e tolerância excessiva dos inteligentes.

Passando para o terreiro da polı́tica, a sabedoria tem sido tratada com astúcia e a inteligência com arrogância. Aqueles que se consideram “sabidos” buscam manejar situações em benefı́cio próprio, subestimando a todos. No entanto, a verdadeira inteligência polı́tica compreende e respeita as perspectivas e habilidades dos envolvidos, construindo relações baseadas na confiança e cooperação mú tua.

Segundo Toim da Meruoca, “o fenômeno das dentaduras disfarçadas contamina e ameaça a saúde bucal da verdadeira pipocracia – fenômeno dinâmico e inesperado, reconhecido pela emergência espontânea de movimentos sociais e polı́ticos na caça de mudanças no sistema democrático”.

E continua: “Com a desculpa de proteger os valores pipocráticos, no hálito de dentifrı́cios duvidosos, o bafo do poder tira a liberdade de expressão e esculhamba as legı́timas obturações. Esta combinação cı́nica da linguagem para defender a tirania arenga as bandeiras democráticas e trai os principais direitos humanos.

As sociedades devem ficar vigilantes contra esse desvio do poder, defendendo os sisos e molares da verdadeira dentı́stica e resistindo a qualquer tentativa de mastigação por parte dos cariados autocratas com jaleco de pipocrata.”

Pois é, essa história de dentadura em nome da pipocracia é para deixar qualquer banguela de boca aberta e queixo caı́do. Mas, assim como o milho que estoura na panela, essa forma de democracia aparece de forma explosiva, muitas vezes como resposta a eventos ou situações que desaniam os valores democráticos.

E o que dizer de Toim da Meruoca? Os pensamentos desse andarilho sertanejo, retirante, são como um cacimbão de sabedoria. Suas reflexões poéticas e filosóficas nos ensina que a verdadeira riqueza da vida está na simplicidade. Toim nos aponta a importância da contemplação e da gratidão pelo milagre da existência.

*Totonho Laprovítera

Arquiteto, escritor e artista plástico.

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