Com o titulo “Desafios da política”, eis artigo de Fátima Vilanova, doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. “A população só tem vez, quando a oposição manifesta-se contra os abusos do mandatário de plantão, seja prefeito, governador, presidente da República, não porque os considere abusivos, mas para tirar proveito, também”, expõe a articulista.
Confira:
A política precisa encantar as pessoas, porque ela pode ser apaixonante. Tem algo mais vital, necessário, urgente do que servir à população? Não conheço. É para servir que a política existe na democracia. Conhecer as dores, os anseios, os sonhos, comprometer-se, especialmente com os que mais sofrem, ouvindo e buscando caminhos para o atendimento de suas demandas: estes são os desafios da política digna do nome.
Acontece que a política virou meio de vida, emprego, profissão. De modo geral, a política é buscada para servir-se do poder, perpetuar-se nele, para lotear a máquina pública, contratar correligionários, indicar parentes para cargos em secretarias, ministérios, tribunais de contas, conselhos de estatais, STF, STJ, dentre outros. É uma pajelança entre amigos. Esta é a política que todos conhecemos. Nesta lambança, os partidos estão juntos e misturados, com raras exceções.
A população só tem vez, quando a oposição manifesta-se contra os abusos do mandatário de plantão, seja prefeito, governador, presidente da República, não porque os considere abusivos, mas para tirar proveito, também. Os aliados da situação não criticam o que precisa ser criticado no governo, corrigido, descartado. Eles ficam calados, coniventes, omissos. Total desvirtuamento da política. A crítica tem que começar dentro dos partidos, sendo estimulada por eles, como caminho necessário ao acerto de suas próprias ações.
O que vemos no Brasil é este tipo de política pequena, degradante, que desencanta, entristece, indigna. São exemplos desta política: o caso do “jeitinho” para o aumento do número de deputados federais, de 513 para 531; do acúmulo de aposentadoria e de salário dos parlamentares; a dificuldade que foi a instalação da CPMI do INSS; a resistência ao cumprimento das ordens judiciais do STF para perda de mandato de condenados; de cumprimento de exigência do STF de transparência na liberação das emendas parlamentares; o afrouxamento das leis ambientais; a falta de compromisso do Legislativo com o controle de gastos, necessário ao ajuste fiscal do país. A lista de despropósitos é grande, e só cresce.
A política como deveria ser precisa estar no horizonte das preocupações dos brasileiros. Urge que a polarização atual existente abandone os personagens – chega de culto à personalidade, e abrace bandeiras que promovam o aperfeiçoamento da democracia. Tal desafio passa pela ampliação da participação do cidadão no acompanhamento e fiscalização dos políticos, pela discussão do que precisa mudar no exercício do poder, pela participação da sociedade na riqueza produzida, mediante a justiça tributária, pelo combate às mordomias, privilégios, e corrupção nos Poderes, e aos juros exorbitantes de bancos, visando maiores investimentos em educação, saúde, segurança, enfrentamento das mudanças climáticas e fortalecimento da economia.
*Fátima Vilanova
Doutora em Sociologia pela UFC e autora do livro “Está tudo errado…” (Disponível na Amazon)
Você pode me acompanhar no YouTube, no programa Democracia Radical, nos perfis: @fatimavilanova, @josemariaphilomeno
Uma resposta
Os aliados da situação não criticam o que precisa ser criticado no governo, corrigido, descartado. Eles ficam calados, coniventes, omissos.
Destaquei do brilhante artigo da professora.
Parabéns.
A falta de SANEAMENTO e SAÚDE, aliado aos péssimos serviços de pavimentação, é a completa demonstração de descaso.
Todos querem apenas se perpetuar nessas capitanias hereditárias.