Com o título “Desafios e Soluções Sustentáveis para as Ondas de Calor em Fortaleza”, eis artigo de Cândido Henrique, geógrafo – estrategista em Sustentabilidade e diretor da Federação Ncaional dos Geógrafos (Fenageo). Confira:
O ano de 2023 passou para os registros históricos da humanidade como o ano mais quente dos últimos 150 mil anos, portanto a última vez que nosso planeta chegou a temperaturas tão elevadas nossa espécie estava apenas iniciando a sua jornada neste mundo. Esse aumento das temperaturas globais tem contribuído significativamente para o agravamento de fenômenos naturais como as ondas de calor, impactando de maneira expressiva os grandes centros urbanos. As altas temperaturas associadas à urbanização sem planejamento e à ausência de áreas verdes têm gerado uma série de desafios para a qualidade de vida e saúde da população.
As ondas de calor são eventos meteorológicos caracterizados por períodos prolongados de temperaturas elevadas, muitas vezes acompanhadas de umidade reduzida. Nos centros urbanos, esses eventos tornam-se ainda mais intensos devido ao fenômeno conhecido como “ilha de calor urbano”, onde as áreas urbanas retêm e emitem calor de maneira mais eficiente do que as áreas rurais circundantes. Isso resulta em temperaturas urbanas significativamente mais altas, aumentando os riscos para a saúde, como insolação, desidratação e complicações cardiovasculares.
A cidade de Fortaleza cresceu em uma área com aspectos naturais favoráveis para a atenuação dos efeitos de ondas de calor, com sua faixa litorânea recortada por uma rede de drenagem fluvial que proporciona corredores de ventilação natural para seu interior em conjunto com uma rede de lagoas que juntos formam uma extensa planície flúvio-lacustre limitada por serras metropolitanas como as da Aratanha, Pacatuba, Juá e Santa Rosa, além do maciço residual de Baturité mais ao sul. Porém apesar de todas as condições naturais favoráveis, Fortaleza expandiu de forma desordenada e sem planejamento urbano inteligente que pudesse garantir a manutenção desses aspectos naturais e com isso ainda na década de 90 do século passado foi registrado a formação da primeira ilha de calor, que inicialmente teve seu registro localizado nas proximidades da praça Portugal contudo atualmente esse fenômeno se apresenta nas regiões mais periféricas e com ocupação desordenada e sem favorecimento a atenuantes naturais do calor.
Portanto, políticas públicas que busquem a manutenção, expansão e preservação de áreas verdes nas cidades são cruciais para combater as ondas de calor. Para isso é preciso que o poder público municipal priorize a instalação de parques urbanos, telhados verdes e praças arborizadas e com pavimentação permeável para que não apenas forneçam sombra, mas também ajudem a reduzir a temperatura ambiente através da evaporação da água pelas plantas, criando bolsões de microclima mais ameno, servindo de refúgio natural não apenas para a população humana mas para todos os seres vivos existentes em nossa cidade. Seriam verdadeiros oásis dentro do deserto de asfalto e concreto existentes em Fortaleza.
Sendo necessário um forte e contínuo investimento em infraestrutura urbana sustentável, que oriente a construção de edifícios e pavimentos permeáveis além da substituição de áreas impermeáveis e absorvedoras de calor por aquelas que se utilizam de materiais que refletem a luz solar e permitem a absorção de água.
No meio destas soluções fica claro que a implementação de telhados verdes e paredes vegetais não apenas fornece isolamento térmico aos edifícios, mas também contribui para a redução das temperaturas urbanas e Fortaleza ainda não dispõe de uma legislação municipal que favoreça a implantação desse tipo de solução para as edificações existentes, apesar de alguns projetos de lei terem sido propostos em governos passados, mas nunca aprovados pelo legislativo municipal.
É bom lembrar que recentemente Fortaleza iniciou a construção dos chamados super prédios que são edifícios que poderão alcançar alturas equivalentes a 50 andares e para isso é fundamental adotar estratégias de planejamento urbano que priorizem a orientação e disposição dessas estruturas de concreto de maneira a otimizar a sombra e o fluxo de ar, lembrando que o plano diretor de Fortaleza, ainda, encontra-se em revisão final com um atraso de quase 3 anos para sua conclusão. Se bem feito o planejamento urbano inteligente pode incluir a criação de áreas de convívio sombreadas e a implementação de ruas projetadas para maximizar a ventilação natural.
Somados a essas soluções é necessário também reduzir a dependência de veículos motorizados em favor de opções de transporte sustentável, como bicicletas e transporte público eficiente, que não apenas diminui as emissões de gases de efeito estufa, mas também contribui para reduzir a temperatura urbana. Pra isso é fundamental ir além da conclusão da linha leste do Metrofor, mas iniciar o planejamento e a construção de uma ampla malha metroviária para todos os bairros populosos de Fortaleza e sua interligação com as demais cidades metropolitanas como Eusébio, Itaitinga e a faixa litorânea de Caucaia até a região do Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
As ondas de calor representam um desafio significativo para os habitantes de grandes centros urbanos como Fortaleza, impactando não apenas na qualidade de vida, mas também a saúde pública. A implementação de soluções sustentáveis é crucial para enfrentar essa problemática de maneira eficaz. O investimento em áreas verdes, infraestrutura urbana sustentável, telhados verdes, planejamento urbano inteligente e transporte sustentável são passos essenciais na criação de uma cidade mais resiliente e saudável, capaz de enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
*Cândido Henrique
Geógrafo – Estrategista em Sustentabilidade e diretor da Federação Ncaional dos Geógrafos).
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Gostei !
Muito bom o artigo, principalmente pelas sugestões inteligentes !
👏👏👏👏