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“Desejo e violência”

Zenilce Bruno é psicóloga e sexóloga. Foto: Arquivo

Com o título “Desejo e violência”, eis artigo de Zenuile Bruno, psicóloga e sexóloga. “Se educarmos um filho satisfazendo-lhe todos os desejos, faremos dele um pequeno monstro social ou um perverso”, expõe a articulista. 

Confira:

O ser humano é movido por uma força primária, uma pulsão de encontrar satisfação, se possível, para todos os seus desejos. Nutrimo-nos dessa ilusão, mesmo sabendo que isso é impossível. Essa força interna nos atiça sempre, em direções cada vez mais exigentes e até desviantes. Em contextos empobrecidos de valores morais e éticos, essa busca de satisfação seja ela qual for, e a que preço, fica muito perigosa. É um fato preocupante, na atualidade, o enfraquecimento do superego social, não só em relação à expressão dos desejos sexuais, mas também em relação à expressão das forças psíquicas destrutivas.

Por sermos portadores dessa força pulsional tão exigente de satisfação, o projeto educacional da sociedade terá de cuidar para que cada cidadão aprenda a lidar adequadamente com seus próprios desejos. Se educarmos um filho satisfazendo-lhe todos os desejos, faremos dele um pequeno monstro social ou um perverso. Educar envolve a difícil arte de lidarmos com a frustração do educando, com as proibições e limites necessários. Educar envolve também o cuidado com o lazer e alegria do cidadão.

As sociedades são frequentemente sacudidas por turbulências, rupturas, orgias, parênteses festivos. Mas as frequentes experiências, motivadas por desejos de triunfar sobre os outros, podem acabar esbarrando em formas de violência incontroláveis, em estilos de vida violentos, porque há “uma perturbadora ligação entre desejo e violência”, lembra Bataille. A própria natureza é violenta. Na luta pela sobrevivência, os seres mais fortes devoram em festa os mais frágeis. Nos humanos a pulsão agressiva e libidinosa exige gozo, prazer e vitória sobre o outro. Só um superego bem construído pode dar conta de administrar tal exigência.

Embora tenhamos introjetado ideias negativas sobre o proibido, parece-me sábia a insistência de Bataille sobre a “função essencialmente pacificadora da proibição”. Poderíamos reconsiderar o slogan “é proibido proibir” admitindo que é necessário proibir, como meta de ordem e paz.

O imaginário da cultura e a discursividade contemporânea, andam obcecados por esta força do desejo-violência. As manifestações de prazer têm acontecido não só na realização de atos violentos, mas também no ver, observar imagens desses atos. Nossas telas, nosso cotidiano, nutrem um prazer com a violência expondo guerras, atrocidades, espancamentos, torturas, perversões. Há um misto de horror e excitação na visão desses cenários de dor. O desejo humano que está a serviço do encontro amoroso entre as pessoas, serve também a um prazer perverso e criminoso.

Poderemos, mais construtivamente, pensar talvez, no lugar do proibido, do limite, em nossos processos educacionais. Ver que peso a cultura vem dando a esta condição tão importante ao equilíbrio educacional de seu povo. Na busca frenética de satisfações, percebemos com desencanto, que deslizamos historicamente da repressão sexual, para a revolução sexual, para a algazarra sexual, para a violência sexual. Embora a busca do prazer seja essência à vida, importa saber que, o modo como fazemos, possibilita tanto o bem-estar como o mal-estar. Possibilita tanto amorosidades como crimes hediondos.

*Zenilce Bruno

Psicóloga e Sexóloga.

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