“Fiquei pensando em como a gente deixa de prestar atenção em coisas do cotidiano, justo porque se repetem. A lua, por exemplo”, aponta a jornalista e escritora Ana Márcia Diógenes
Confira:
Na última sexta-feira fui ver a super lua. Subiu por trás do mar imponente, parecia o sol de tão amarela que estava. Depois se escondeu nas nuvens alaranjadas. Voltou. Minutos depois os ventos carregaram nuvens já prateadas para escondê-la e dar um charme grisalho ao cenário. Enquanto isso, as ondas da beira mar de Fortaleza iam e vinham, numa maré que estava secando, à mercê dos ritmos lunares.
Lua cheiona para mim é sempre uma noite perfeita para refletir sobre qualquer coisa. Fiquei pensando em como a gente deixa de prestar atenção em coisas do cotidiano, justo porque se repetem. A lua, por exemplo, surge todos os dias. Em um quarto do tempo se exibe por inteira, redondinha. Mas, sem sempre paramos para admirar e sequer lembramos que é ela, bem menor que a Terra, a responsável por estabilizar a rotação do nosso planeta e o controle das estações, clima e marés.
A lua aqui nesta nossa conversa é uma simbologia para a questão de observar e curtir detalhes. Infelizmente, às vezes estes somente são levados em consideração quando existe um limite, como em casos de relacionamentos em conflito ou situações de doença terminal. Perto de não mais ter jeito a dar é que o ser humano atenta para o que deixou escorrer pelo descaso com o cotidiano.
Embora possa parecer lugar comum os tais planos para a virada de ano, prefiro deixar vocês pensando “lá vem ela…” e apelar para a emotividade que cerca a data: que tal não deixar 2026 escorrer como se o tempo não existisse? Como se a ampulheta já não tivesse virado várias vezes nos dando chance de apreciar os possíveis? Como se fossemos infinitos?
O detalhe, o ressurgir nos processos, a depuração dos dias… são as linhas que podemos escrever na vida. Aproveitemos então o viver.
Ana Márcia Diógenes (@namarcia)
Jornalista e escritora
