Com 2,6 milhões de habitantes e ocupando a quarta posição no ranking nacional das capitais mais populosas, Fortaleza carece da continuidade de um planejamento urbano com começo, meio e fim. Puxado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU-CE), um dos organizadores da comemoração pelo Dia do Arquiteto na tarde de sábado, na sede do Clube Náutico, outras entidades da categoria, profissionais, estudantes e servidores presentes respaldaram a necessidade da realização de concursos públicos para arquitetos nas prefeituras cearenses, com destaque para Fortaleza, que conta atualmente com cerca de quatro servidores nessa área, todos em fase de aposentadoria.
A relação da cidade com os seus moradores, de acordo com o arquiteto e fundador da Reata Arquitetura & Engenharia, Jayme Leitão, passa por um planejamento bem elaborado por profissionais de carreira, comprometidos com a memória histórica, com o presente e com o futuro. “Sem uma equipe de projeto de planejamento urbano que atravesse as administrações, como recuperar as cidades? Esse é o grande desafio que o Brasil tem hoje. As cidades foram destruídas por um processo de urbanização violento que aconteceu ao longo dos últimos 50, 60 anos”, ressalta. Com quase 90% da população brasileira vivendo em regiões urbanas, pensar e executar um planejamento nas cidades resultará no combate à violência, ao crime e à desigualdade social.
Em sua fala durante o evento promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU-CE), Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (ASBEA-CE), Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-CE), Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (FENEA-CE) e Colégio das Entidades Estaduais de Arquitetos e Urbanistas do Ceará (CEAU-CE), Jayme Leitão pontuou ser inadmissível que uma empresa privada no setor de saúde, com sede em Fortaleza, tenha uma equipe com cerca de 300 profissionais, entre engenheiros e arquitetos, e a gestão da 4ª cidade brasileira tenha apenas quatro arquitetos. “Essa é a bandeira que a classe deve defender agora. Já passou da hora de criar uma estrutura de planejamento urbano que passe pelas gestões.”
“Se você coloca duas mil pessoas terceirizadas agora, depois muda a gestão, tira e coloca outras duas mil pessoas, cadê a possibilidade de planejamento urbano? Foi tudo para o esquecimento”, afirma
Jayme Leitão.
Tanto a presidente do CAU-CE, Brenda Rolim, a presidente da ASBEA-CE, Mariana Hissa, como um dos homenageados no evento, o arquiteto e urbanista Romeu Duarte Júnior, ratificaram a fala de Jayme Leitão. “Nossa gestão tem o compromisso em se aproximar mais das prefeituras para explicar a importância de decisões que mudam a vida das pessoas e que interferem na cidade. Defendemos a participação de quem tem formação e conhecimento técnico para desenvolver essa solução”, declara Brenda. Já Mariana, reforçou que é preciso valorizar o serviço público, trazendo ainda mais o ponto da coletividade. “São profissionais que mantêm viva a história da cidade, que trabalham pelo coletivo e servem ao público”.
Por fim, Romeu disse que “estamos cansados de sermos uma mera escola de estudos preliminares que logo são esquecidos e engavetados. Nossa classe tem o direito de aspirar a ser a coluna dorsal do controle e do planejamento urbano de Fortaleza, já que temos um Curso de Arquitetura e Urbanismo na UFC consolidado e respeitado, com prestígio nacional e 60 anos de funcionamento, agora ainda mais respaldado pela criação do Instituto de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFC”.
O porquê do Náutico
A escolha do Clube Náutico para a comemoração pelo Dia do Arquiteto, comemorado oficialmente neste 15 de dezembro, data de nascimento de Oscar Niemeyer, teve um significado especial. De acordo com a presidente do CAU-CE, Brenda Rolim, “este é um patrimônio emblemático para a nossa cidade, em especial para todos os amantes da arquitetura e da preservação histórica”. Inclusive, para o arquiteto Jayme Leitão, espaços como o Náutico são de há muito penalizados com a cobrança taxas elevadíssimas de IPTU. “O Náutico não é um hotel, não é um estabelecimento comercial. É parte da memória de Fortaleza, um lugar extraordinário e que precisa contar com a proteção e o apoio do poder público”, conclui.