O Instituto Carta Magna da Umbanda do Estado do Ceará (ICMU-CE) vai promover, pelo segundo ano consecutivo, a Caminhada Contra a Intolerância Religiosa,. Será na próxima sexta-feira, com concentração a partir das 14 horas, na Praça dos Leões. Nesta data, também é comemorado o Dia Nacional da Umbanda.
O presidente do ICMU, Pai Gerson, do terreiro da Mãe Maria, afirma que “a caminhada é um momento de combatermos a intolerância e o racismo religioso e de chamarmos atenção para nossa existência e para as pautas dos povos de terreiro”. Segundo ele, embora voltada a esses povos, “a caminhada está aberta a pessoas de todas as religiões”.
Preconceito
Sobre o preconceito e a discriminação, ambos continuam existindo e tem fortes raízes no Ceará, como mostram alguns casos recentes: em 2022, em Uruburetama, “os participantes (de uma) quadrilha afirmam que a secretária de Turismo e Cultura da cidade, Fernanda Carneiro, mandou parar a apresentação alegando ser ‘macumba’, no momento em que os participantes se apresentavam de branco em homenagem à Santa Dulce, freira brasileira que desenvolveu um trabalho de ajuda aos pobres na Bahia”. O caso foi investigado pela Polícia Civil e MPCE.
Já em 2023, uma adepta do candomblé foi discriminada durante viagem de ônibus de Fortaleza a Pecém: ‘Diziam que eu estava endemoniada’.
Também no ano passado, o Instituto Dragão do Mar, foi palco de outro episódio de intolerância. A deputada estadual, Dra. Silvana (PL), pediu para remover o painel “Exu te ama” da exposição “Festa, Baia, Gira, Cura”. Para o Dragão, o pedido foi “fruto de uma compreensão superficial e de argumentos preconceituosos e intolerantes”.
Muitas vezes é o próprio Estado que não cumpre o seu papel e ajuda a perpetuar o preconceito. Em janeiro de 2003, por exemplo, foi aprovada a Lei 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial da rede de ensino. Até hoje essa diretriz não é cumprida por escolas públicas e particulares.
116 Anos
O Dia Nacional da Umbanda é comemorado em 15 de novembro, mesma data de sua fundação e reconhecimento. Neste ano, a Umbanda completa 116 anos.
A Umbanda é uma religião que une crenças de povos africanos escravizados e dos indígenas brasileiros. Também de caboclos, sertanejos, pescadores e até de outros povos, como os turcos; Ao longo do tempo, e também por conta do preconceito e da perseguição, os cultos foram recebendo elementos do catolicismo e espiritismo, no que o escritor Antonio Simas chamou amálgama. Para ele “A expressão macumba vem muito provavelmente do quicongo kumba: feiticeiro (o prefixo “ma”, no quicongo, forma o plural). Kumba também designa os encantadores das palavras, poetas”.
Macumba seria, então, a terra dos poetas do feitiço; os encantadores de corpos e palavras que podem fustigar e atazanar a razão intransigente e propor maneiras plurais de reexistência pela radicalidade do encanto…”
SERVIÇO
*Praça dos Leões – Centro de Fortaleza, com concentração a partit das 14 h
*Ato na Cidade da Criança às’16 horas
*Giro de Caboclo (ritual religioso) encerra o ato às 18h30.