“Pronto! A partir de agora vou financiar o narcotráfico sem receio algum de ser preso… mas se emitir minha opinião sobre outros temas sensíveis, o risco de cadeia é enorme”, ironiza o advogado Valmir Pontes Filho. Confira:
Um cavalheiro idoso, cabelos ralos e brancos, razoavelmente bem vestido, chega no balcão da farmácia onde costuma adquirir seus remédios que a velhice impõe, vitaminas e artigos de higiene, e é bem recebido por uma jovem e simpática atendente:
Bom dia, seja bem-vindo, como vai o Senhor?
Bom dia, minha filha (tem ele o hábito de chamar assim, carinhosamente, os de menos idade), como vai você?
Estou ótima, obrigada… o que deseja hoje?
Por favor, me enrole 10 gramas de maconha… da boa, por favor..
COMO ASSIM? O SENHOR ESTÁ LOUCO? Não vendemos esta porcaria aqui (ela respondeu com uma expressão de espanto e indignação). Além do mais, este produto é ilegal!
Não, minha cara, estou lúcido e consciente… por enquanto, pelo menos, pois a posse e o consumo de maconha agora é perfeitamente legal. Nesse peso, pelo menos!
Não é possível… mudaram a lei?
Sim, mas não foi o Congresso, onde estão os nossos representantes eleitos, que o fez. Foi a Corte Suprema do Brasil… não sei bem como isso foi possível, mas assim aconteceu!
NÃO ACREDITO….MEU DEUS! (de novo aquela expressão de horror na face)… DE QUALQUER FORMA, AQUI NÃO TEMOS NEM VENDEMOS MACONHA!”
Mas se se fumar um “baseado” é conforme a lei, quero adquirir a erva também de forma legal… não tem lógica?
É, parece ter… mas não acho que o senhor vá encontrar dessa droga desgraçada em farmácia alguma!
Onde encontro, então?
Ah, não sei nem quero saber… tenha um bom dia e não volte mais aqui!
Ao sair do estabelecimento, o segurança (um sofrido PM que fazia bico nas horas de folga) me abordou: senhor, procure uma boca de fumo que encontrará lá um traficante com muitos gramas de maconha, cocaína, o que quiser… posso dizer onde é, mas não irei com o senhor, pois certamente me vão matar!
Pronto! A partir de agora vou financiar o narcotráfico sem receio algum de ser preso… mas se emitir minha opinião sobre outros temas sensíveis, o risco de cadeia é enorme! As EVIDÊNCIAS mostram isto!
Valmir Pontes Filho é Mestre em Direito e ex-professor de Hermenêutica Jurídica e de Direito Constitucional na Faculdade de Direito da UFC e na Universidade de Fortaleza
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40 gramas. E se a balança registrar 41 ou 42 gramas? E se a balança não for de precisão? É apenas um delito de natureza administrativa ou criminal? Avaliação das circunstâncias para definir se era pra uso próprio ou era tráfico. Quanta vulnerabilidade! Meus Deus! Que país é este, senhores ministros/legisladores?