No final de novembro do ano passado, um grupo de parlamentares brasileiros de direita, formado pelos senadores Magno Malta (PL), Damares Alves (Republicanos), Sergio Moro (União), e o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL), esteve na Ucrânia para participar de uma conferência organizada pelo governo ucraniano para políticos da América Latina e Caribe. Na ocasião, os congressistas se encontraram com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o senador capixaba afirmou: “pedi desculpas [a Zelensky], em nome dos brasileiros, pelas declarações desrespeitosas feitas por representantes do governo atual, deixando claro que a maioria de nós não compactua com tais atitudes. Aproveitei também para destacar o momento delicado que vivemos no Brasil, com sinais preocupantes de autoritarismo”.
Já o senador Sérgio Moro registrou o momento em suas redes sociais. “viemos, a delegação brasileira, à Ucrânia dizer, em alto e bom tom e com clareza solar, que a população brasileira apoia a sua causa e que é contra a guerra de agressão promovida pela Rússia. A Ucrânia, hoje, luta por sua soberania e pelo mundo livre. A posição de Lula não nos representa”. É bom lembrar, que à epoca, Lula vinha sendo bombardeado pela oposição, porque chegou a dizer que Zelensky tinha tanta culpa pela guerra quanto Putin.
Três meses depois da ida à Ucrânia e das declarações dos parlamentares de direita brasileiros que se arvoram em falar em nome de Deus, da pátria e da família, eis que o presidente do EUA e xerife do mundo, ídolo desses congressistas, passa a tratar Zelensky como ditador e em uma cena inusitada, bate-boca em cadeia internacional de tv. Foi o bastante, para que no dia seguinte ou poucas horas depois, de vítima, o presidente ucraniano já passasse a ser visto de outra forma pelos que antes acusavam Lula de ser desrespeitoso com a Ucrânia. Agora, o discurso é de que foi Zelensky quem não evitou a guerra, nas palavras de Trump.
É bom trazer à tona fatos do tipo, porque a gestão Trump, já disse aqui, está jogando na lata do lixo, à conta gota, a pauta dos patriotas brasileiros, com menos de dois meses de governo. Como até as eleições de 2026 ainda falta algum tempo, será bem interessante acompanhar como essa pauta irá se adequando em temas considerados caros à direita, a partir do que manda a cartilha imposta pela nova ordem mundial trumpista, que aposta na relativação do bem contra o mal e não admite discordância de nenhuma maneira.
*Luiz Henrique Campos
Jornalista e titular da Coluna “Fora das 4 Linhas”.