“Ao atacar o STF, exigir o fim do julgamento de Bolsonaro e ameaçar o Brasil com sanções, Trump tenta interferir diretamente na soberania nacional, e faz do Ceará um campo de prova de sua chantagem”, aponta a comunicadora Sara Goes
Confira:
Em fevereiro, escrevi neste mesmo espaço sobre a visita de Priscila Costa (PL-Fortaleza) aos Estados Unidos, onde, em vez de representar os interesses do povo cearense, preferiu posar para selfies na posse de Donald Trump. À época, alertei que esse alinhamento simbólico tinha custos reais. Agora, eles chegaram: o tarifaço de 50% anunciado por Trump (a começar em agosto) contra as exportações brasileiras atinge em cheio o Ceará, estado que só em 2025 já exportou mais de R$ 3 bilhões aos EUA.
Apenas no primeiro semestre, quase metade dessas exportações foi de aço, setor que agora enfrenta risco de quebra de contratos, demissões e queda abrupta na arrecadação estadual. Mas o impacto não para aí. Calçados, pescados, sucos e outros produtos cearenses também estão na mira da tarifa, comprometendo o comércio exterior, os empregos e o financiamento de políticas públicas no estado.
A medida, como revelou a carta de Trump enviada a Lula, não tem base econômica. É um gesto de guerra política e ideológica. Ao atacar o STF, exigir o fim do julgamento de Bolsonaro e ameaçar o Brasil com sanções, Trump tenta interferir diretamente na soberania nacional, e faz do Ceará um campo de prova de sua chantagem.
Foi em Fortaleza, na cúpula dos BRICS de 2014, que nasceu a proposta de um novo sistema financeiro internacional. A fundação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Acordo de Reservas Contingentes simbolizou ali o desejo de autonomia frente à hegemonia do dólar e dos EUA. Hoje, Trump responde a esse gesto inaugural com um tarifaço que atinge diretamente o projeto de soberania que teve o Ceará como berço simbólico.
A resposta do governo Lula foi clara, o Brasil não aceitará ser tutelado. A Lei da Reciprocidade Econômica aprovada neste ano permite retaliações e está pronta para ser acionada. Mas, enquanto isso, os impactos já se acumulam. O que começou com uma viagem performática virou rombo comercial, desemprego e retração produtiva.
Nas redes sociais, Priscila Costa parece ter perdido o endereço de casa, e talvez até a própria nacionalidade. Em tom de comemoração, celebra as decisões de Trump, repete as palavras do ex-presidente americano e instiga seus seguidores a culpar Lula pelo desastre anunciado. Enquanto o Ceará sangra, ela aplaude o algoz.
Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira
 
								 
											