Categorias: Artigo

“Dos Bebés aos Bebês” – Por Maurício Filizola

Maurício Filizola é empresário e diretor do Sincofarma/CE

“Requerer guarda de bebê reborn na Justiça, pedir para o padre batizá-las com água benta e sinal da cruz na testa ou solicitar licença-maternidade para faltar ao trabalho e cuidar do brinquedo, aí já é alucinação”, aponta o empresário Maurício Filizola

Confira:

Eu juro para vocês que minha intenção, ao preparar essa crônica, era pautar um assunto que, na minha óptica, seria o de maior importância das últimas duas semanas: a escolha do novo papa, que já demonstrou que se preocupa com os pobres, que quer combater a desigualdade social e ainda é adepto de uma boa cervejinha.

Mas, que me perdoe Leão XIV! Pelo menos no Brasil, a pauta caiu. A escolha do conclave já foi superada pela mais nova polêmica nacional: estão tratando as bonecas hiper-realistas bebê reborn como gente. E isso num país em que mais de 6 milhões de crianças reais padecem de insegurança alimentar (também conhecida como fome).

Obviamente que aqui não estamos tratando das pessoas que colecionam ou adquirem os mimos para rememorar a tenra infância. Isso, sim, é coisa de gente normal. Mas requerer guarda de bebê reborn na Justiça, pedir para o padre batizá-las com água benta e sinal da cruz na testa ou solicitar licença-maternidade para faltar ao trabalho e cuidar do brinquedo, aí já é alucinação.

Ou não! Em todo o país, nas últimas semanas, foram notificados vários casos até de pessoas levando bebês reborn para se tratar em UPA’s. E tem gente pagando caro para lojas que oferecem o serviço de parto das bonecas, com direito a certidão de nascimento e carteira de vacinação.

O fenômeno também chegou à Câmara Federal. O deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP) quer impedir a realização de “atendimentos” em instituições de saúde públicas e privadas. Já o projeto do deputado Zacharias Calil (União Brasil-GO) cria uma multa para quem tentar usar as bonecas para ter preferência em filas de atendimento de hospitais, guichês, descontos em mensalidades ou até usar assentos preferenciais em ônibus. E até a deputada Rosângela Moro (União Brasil-SP), mulher do Sérgio Moro, defende que o SUS banque a assistência psicológica para os “pais e mães” com dependência psicológica de bebê reborn.

É bem verdade que nunca se deve olhar para o futuro com os olhos do passado, mas temos sempre a tendência de comparar o tempo de agora com os nostálgicos de outrora. Não sei se é porque pertenço a uma geração onde as bonecas de minhas irmãs – que no interior se chamavam bebés – não se pareciam tanto com gente. Ou se naquele mundo a mentira é que não se parecia tanto com a verdade. O certo é que usávamos a imaginação para algo mais sadio. E nossas carências estruturais eram tantas que não havia tempo para as afetivas.

Mas confesso que éramos bem mais felizes

E bem menos estranhos.

Mauricio Filizola é empresário e diretor do Sincofarma

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Esse website utiliza cookies.

Leia mais