Com o título “É a energia barata, meus caros!”, eis artigo de Marcos C. Holanda, PhD em Economia e ex-presidente do Banco do Nordeste. “Devemos, o quanto antes, substituir a ilusão do Hub de Hidrogênio Verde por um hub de gás natural no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. É apostar na estratégia que combine energias renováveis, principalmente solar, com gás natural e potencializar nossa vantagem comparativa na oferta de energia barata”, expõe o articulista.
Confira:
É bastante conhecida a frase do marqueteiro do presidente Clinton para resumir o contexto de uma estratégia de campanha vitoriosa: ‘é a economia, estupido!’ Não vou ser tão enfático, mas vou na mesma direção na definição de uma estratégia vitoriosa para a economia do Ceará: a oferta de energia barata, meus caros! Muitos criticam o estilo do presidente Trump, mas é um engano achar que tudo é maluquice e que não existe um plano por trás. Um dos pilares desse plano, talvez o mais importante, é a oferta de energia abundante e barata. Nessa estratégia mais importante que energia verde é a energia barata em contraste com a maioria dos países da Europa. Na Europa, a ilusão de uma economia verde e neutra em carbono até 2050; nos Estados Unidos, a realidade do “drill baby drill” que acelera a descoberta e exploração de energia fóssil.
Por trás dessa estratégia, está a correta percepção de que a economia vai ser dominada pela revolução da Inteligência Artificial e que essa tem como principal insumo a energia que alimenta os data centers cada vez maiores e sedentos. Só vai ganhar a guerra da IA quem tiver energia abundante, barata e de oferta continua. Nessa direção, a estratégia dos Estados Unidos é investir pesado em nuclear e gás natural.
O Ceará tem uma oportunidade importante de se posicionar nesse novo mundo. Precisamos entender, no entanto, alguns fatos básicos. Primeiro, apesar de queda impressionante nos custos de produção, energia eólica e solar não são baratas, pois têm problemas de intermitência e exigem estrutura de oferta suplementar. Segundo, a energia eólica está perdendo competitividade para a solar e essa tendencia vai continuar. Terceiro, nenhum data center de grande porte vai ser abastecido apenas com energia 100% verde. Quarto, esquece o hidrogênio verde que nunca foi fonte
de energia e sim uma maneira muito cara de transportar energia.
Devemos, o quanto antes, substituir a ilusão do Hub de Hidrogênio Verde por um hub de gás natural no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. É apostar na estratégia que combine energias renováveis, principalmente solar, com gás natural e potencializar nossa vantagem comparativa na oferta de energia barata. O Porto do Açu, no Rio de Janeiro, já está fazendo isso. Para abastecer usinas térmicas a gás, temos os Estados Unidos e o enorme potencial da margem equatorial. O mundo muda muito rápido e precisamos jogar o jogo de forma competente e profissional. Não é só o Rio de Janeiro que não é para amadores.
*Marcos C. Holanda
PhD em Economia e ex-presidente do Banco do Nordeste.