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“Economia Circular: O Caminho para o Setor Produtivo no Brasil”

Geógrafo Cândido Henrique, ex-superintendente do Iphan-CE. Foto: Arquivo Pessoal

Com o titulo “Economia Circular: O Caminho para o Setor Produtivo no Brasil”, eis artigo de Cândido Henrique de Aguiar Bezerra, geógrafo e estrategista em Sustentabilidade da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC).

Confira:

A transição para uma economia circular tem se mostrado uma das principais estratégias para o desenvolvimento sustentável no século XXI. No Brasil, onde a diversidade de recursos naturais
e a complexidade da cadeia produtiva são marcantes, a adoção desse modelo econômico pode trazer benefícios significativos não apenas para o meio ambiente, mas também para a
competitividade das empresas e a qualidade de vida da população. O documento técnico ISO/UNDP PAS 53002:2024, que fornece diretrizes para contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, oferece um roteiro valioso para que o setor produtivo brasileiro avance nessa direção.

A economia circular é um modelo que busca romper com o padrão linear de produção e consumo — extrair, produzir, descartar — e substituí-lo por um sistema regenerativo e restaurativo. Nesse modelo, os recursos são mantidos em uso pelo maior tempo possível, os resíduos são minimizados e os materiais são reinseridos no ciclo produtivo, seja por meio da reciclagem, reutilização ou regeneração. A ideia é criar um sistema em que nada seja desperdiçado e tudo seja transformado em valor. Nesse sentido o Brasil que é um dos países mais biodiversos do mundo, mas que também enfrenta desafios significativos em termos de gestão de resíduos, desmatamento e degradação ambiental, ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir os ODS, especialmente no que diz respeito ao consumo e produção sustentáveis (ODS 12). A adoção da economia circular pode ser uma solução eficaz para esses desafios, promovendo a eficiência no uso de recursos e reduzindo o impacto ambiental das atividades produtivas.

Além disso, a economia circular pode impulsionar a inovação e a competitividade das empresas brasileiras. Ao adotar práticas como a reutilização de materiais, a logística reversa e o ecodesign,
as empresas podem reduzir custos, aumentar a eficiência e abrir novos mercados. Isso é especialmente relevante em um contexto global em que consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às práticas sustentáveis das empresas.

Para tanto a ISO lançou o documento ISO/UNDP PAS 53002:2024 que oferece diretrizes claras para que as organizações integrem a sustentabilidade em suas operações e processos de tomada de decisão. Ele enfatiza a importância de estabelecer objetivos ambiciosos, alinhados com os ODS, e de envolver as partes interessadas no processo de identificação e priorização de impactos.

Para o setor produtivo brasileiro, a inovação em modelos de negócios levando a economia circular exige uma mudança de mentalidade, passando de um foco no produto para um foco no
ciclo de vida do produto. Isso pode incluir a oferta de serviços de manutenção, reparo e atualização, bem como a criação de produtos modulares e de fácil desmontagem.

Mas a transição para a economia circular não pode ser feita de forma isolada. É necessário que empresas, governos, academia e sociedade civil trabalhem juntos para criar soluções coletivas.
O documento da ISO destaca a importância de parcerias público-privadas e alianças intersetoriais para acelerar o progresso em direção aos ODS, e com isso tentar resolver um dos maiores desafios ambientais e de saúde pública do país que é a gestão de resíduos, definida na Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2014. Nesse sentido a economia circular exige uma gestão eficiente dos resíduos, transformando-os em recursos. Isso pode incluir a implementação de sistemas de logística reversa, a criação de mercados para materiais reciclados e a adoção de
tecnologias que permitam a recuperação de materiais valiosos a partir de resíduos.

Como podemos observar a transição para a economia circular no Brasil não está isenta de desafios. A infraestrutura de reciclagem ainda é insuficiente em muitas regiões, e há uma
necessidade urgente de investimentos em tecnologia e capacitação. Além disso, é necessário um marco regulatório que incentive práticas circulares e desincentive o desperdício.

A boa notícia é que os benefícios superam os desafios, tornando a economia circular uma oportunidade que pode gerar empregos, reduzir a dependência de matérias-primas virgens e contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa atendendo as metas de descarbonização da economia brasileira. Além disso, ela pode fortalecer a resiliência das empresas diante de crises, como a escassez de recursos naturais e as mudanças climáticas.

Desta forma finalizo reforçando que a economia circular não é apenas uma tendência global; é uma necessidade urgente para o Brasil e o documento ISO/UNDP PAS 53002:2024 oferece um
roteiro claro para que o setor produtivo brasileiro avance nessa direção, integrando a sustentabilidade em suas operações e contribuindo para os ODS. Ao adotar práticas circulares, as empresas podem não apenas reduzir seu impacto ambiental, mas também aumentar sua competitividade e contribuir para um futuro mais sustentável e inclusivo.

O momento de agir é agora. A economia circular é o caminho para um Brasil mais sustentável, resiliente e próspero.

*Cândido Henrique de Aguiar Bezerra

Geógrafo e Estrategista em Sustentabilidade da FIEC.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (4)

  • Olá Eliomar, boa tarde.
    Já conversastes com Cândido sobre a Lei da Reciclagem? Lei 14.260/21; Decreto 12.106/24;
    Portaria MMA 1250/24
    Grato pela atenção.
    Honorato Feitosa
    (85) 99992.0670

    • Oi amigo Honorato, que bom vê que você leu nosso artigo. Não conversei com o Eliimar sobre esses dispositivos legais que tratam da questão da reciclagem no Brasil, inclusive a recente portaria do Ministério do Meio Ambiente que regula a lei de incentivos a reciclagem. O artigo tem carater mais amplo uma vez que o conceito de economia circular não está resumido apenas a reciclagem ou mesmo logística reversa mas também a eficiência do uso dos recursos naturais e ao ecodesign bem .como uma mudança de percepção de produção de bens de consumo que percebem todo o ciclo de vida do produto. Portanto friso a importancia da publicação do documento técnico da ISO para essa questão não desmerecendo todo o arcabouço legal brasileiro nesse caso que complementa a importância da economia circularno nosso país. Forte abraço e espero lhe encontrar mais vezes não apenas por aqui.

  • Muito bom o artigo. Além de explicativo mostra a necessidade de se voltar os olhos pra economia circular. Parabéns!!!!

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