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“ECT”

Totonho Laprovítera é arquiteto e escritor. Foto: Reprodução

Com o título “ECT”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto, escritor e artista plástico. 

Confira:

“A carta é o mais humano dos objetos.” (Gabriel García Márquez)

Na canção “ECT”, composta por Carlinhos Brown, Marisa Monte e Nando Reis, e eternizada na voz de Cássia Eller, inspira-me o refrão: “Levo o mundo e não vou lá.” Pois é, as cartas podem nos levar mundo afora, sem que precisemos arredar o pé de casa. No entanto, mesmo perfumadas e cheias de afeto, elas não bastam para suprir as necessidades dos sentidos. O virtual, por sua vez, também não se compara ao presencial, dono do poder de tocar a alma e elevar o espírito. É no encontro físico que a vida ganha textura, calor e nível, inteirando o que nenhuma carta é capaz de alcançar.

Paralelo a essa visão, matuto a respeito da recorrente necessidade de expor artes no estrangeiro, talvez, reflexo de uma herança que ainda carrega os traços da vaidade dos colonizados. A ânsia por fama muitas vezes parece alimentar uma validação que, se não for conduzida com critério, torna-se superficial e vazia. Já vivi a experiência de estar com minhas obras diante de um público de carne e osso em terras distantes, e confesso a preciosidade do diálogo posto nesse encontro entre culturas, sensibilidades e olhares. Ainda assim, reflito sobre o significado de levar a arte além-fronteiras sem a presença física, experimentando o desafio da exposição à distância. Contudo, faço uma ressalva: que tal experiência não se limite ao simples acréscimo de um currículo artístico.

Afinal, é preferível a qualidade ao mero acúmulo numérico de exibições. Mas, se Deus quiser, o momento de eu expor à distância chegará, fundamentado em valores que ultrapassem a vaidade pessoal e conversem com a essência da arte como atalho entre mundos.

Nem faz tanto tempo, um artista decidiu expor online, preparando digitalmente suas obras e até realizando um vernissage com direito a coquetel virtual. Bastou anunciar a abertura da exposição, e logo apareceram críticas nos comentários do chat: problemas de resolução e demora no carregamento das obras. Irritado, o artista respondeu que sua arte era para ser apreciada com calma, não com conexão ruim. A moral é que, enquanto expor à distância é possível, garantir uma boa conexão de internet é fundamental.

Voltando às cartas, aconteceu no começo dos anos 1960, em um pequeno lugarejo das bandas do sertão cearense. O carteiro Gabriel Arcanjo era casado com a jovem Zita, que, mesmo com os tantos afazeres de dona de casa, arranjava tempo para espiar os envelopes das cartas que o marido entregava do “Aliança para o Progresso” – programa cooperativo estadunidense para o desenvolvimento econômico e social da América Latina. Encantada, ela achava cada um mais bonito que o outro.

Sobre o causo, conta o coronel Lucena, fazendeiro da região, que a exagerada admiração se tornou tão graúda que o casal chegou a batizar os dois primeiros filhos de Airmail e Paravion.

*Totonho Laprovítera

Arquiteto, escritor e artista plástico.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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