Em artigo sobre o centenário de vida do jornalista e escritor cearense Eduardo Campos, o Manuelito, o cientista social Paulo Elpídio de Menezes Neto lembra da difícil época na Academia no início do governo militar. Confira:
Cultivei uma justificada admiração pelo homem e pelo escritor.
Jovem professor, apenas iniciado no meu magistério universitário tive, com Manuelino, como o chamavam os da sua dileta intimidade, assento no Conselho Universitário da UFC. Ele, representante da comunidade; eu, diretor de uma faculdade.
Divergências com o reitor da época, indicado ainda no governo do marechal Castelo Branco, Fernando Leite, puseram-me na linha de fogo e expuseram-me e aos meus colegas das Ciências Sociais aos denunciantes de atividades subversivas na universidade.
Politicamente, Manoelito e eu divergíamos nos limites dos nossos entendimentos políticos, mas nos respeitávamos e nunca deixamos de ser amigos.
Acusado pelo reitor da época, em viva voz, em sessão do Conselho Universitário de “comunista”, com ponto de exclamação, fomos eu e todo o departamento de Ciências Sociais exonerados por portaria do reitor (como eram severas e tontas as portarias de Fernando Leite!) …
Eduardo Campos indignado, faz uso da palavra e lamenta ter sido testemunha de uma cena que esperava jamais ter presenciado em uma universidade. Um reitor a acusar e demitir arbitrariamente professores por acusação leviana de uma autoridade intempestiva.
No final da tarde, o reitor assinava outra portaria reintegrando os demitidos. Alegando incorreção no texto.
Incorreção de caráter, poderia ter pensado…
Eduardo Campos, locutor, redator, jornalista. teatrólogo e escritor foi um dos mais legítimos atores da literatura brasileira.
Fica aqui o depoimento, sem favor, o reconhecimento de um grande talento.
Deixei a presidência do Conselho Editorial da UFC, há alguns meses. Em um volume editado, pronto para publicação de 6 livros de Eduardo Campos, com a fixação de texto e a fortuna crítica na “Coleção Intérpretes do Ceará”. Deveria ter sido lançado hoje, data do seu Centenário.
Do destino deste livro nada se sabe: parece chegada a hora de um grande desmonte cultural. Novos critérios invalidam velhas e gastas preferências liberais…
Seja o que Deus permitir.
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor e escritor, além de ex-reitor da UFC