Com o título “Educação e preconeito combinam?”, eis artigo de João Teles de Aguiar, professor e historiador. Ele traz à luz uma reportagem da Folha de São Paulo sobre condiçaõ de um aluno.
Confira:
No último fim de semana, a Folha de São Paulo trouxe uma matéria sobre algo preocupante: racismo e preconceito, em uma escola, de gente rica, de São Paulo. Diz um trecho:
“Quando Gabriel Domingues chegou ao Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo, causou espanto. Bolsista, negro e periférico, destoava dos demais alunos da escola, com mensalidades a partir de R$ 3.000.”
Pois é. A partir daqui, Gabriel passaria a enfrentar muitas dificuldades, de relacionamento. Segue o texto:
“Era o 1° ano do Ensino Médio, e os seguintes seriam marcados por percalços. A primeira barreira enfrentada por ele, foi a social.”
Como se divertir, criar vínculos, com gente tão diferente e distante, uma vez que eram todos ali, eram ricos, brancos, arredios? Gabriel sentiu:
“Era difícil se enturmar, com pessoas de vivências tão diferentes. ‘Eles (alunos) não me chamavam para sair e justificavam, dizendo que era muito caro!’, relata.”
Imagine a situação. Com quem conversar, trocar ideias, travar amizades, curtir os intervalos, o tempo livre? Como se inteirar de algo, como: atividades, dificuldades, pesquisas, trabalhos a serem realizados em ambiente doméstico, etc?
Mas, Gabriel está na luta:
“Hoje com 21 anos e estudante de administração pública, na FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gabriel faz parte da Ponteduca, uma organização sem fins lucrativos, que luta pela redução das desigualdades socioeconômicas, a partir da democratização da educação particular.”
A escola existe para criar laços, interação, constituir pontes de diálogo, aprofundar temas, produzir arte, etc. Mas, e se o ambiente é pesado, cheio de piadas, apelidos, gozações, maus-tratos…? Quem vai à escola, confia que ali está seguro de determinadas situações, afinal, trata-se de um ambiente onde deve reinar a inteligência, a pesquisa, a mente ocupada, o companheirismo. E quando tudo isso, decepciona?
O caso do Gabriel não é único. Outras situações já aparecem na imprensa, chamando a sociedade para o debate claro e definitivo sobre o espinhoso tema. Quem vai puxar o carro da mudança de rumo?
É um boa hora para o Congresso Nacional ou a OAB chamarem os atores envolvidos nesse caso e em outros para os devidos esclarecimentos e que devem ser seguidos de providências. Não dá mais para esperar!
*João Teles de Aguiar
Professor e historiador, integrante do Projeto Confraria de Leitura.