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“Educação sem empatia” – Por Djalma Pinto

Djalma Pinto é advogado e especialista em Direito Eleitoral. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Educação sem empatia”, eis artigo de Djalma Pinto, advogado, mestre em Ciência Política e autor de diversos livros entre os quais “Ética na Política”, “Distorções do Poder” e “Cidade da Juventude”. Diz o articulista:”Tem ficado muito claro para a sociedade que investir parte expressiva do orçamento na educação, com ênfase na integridade e no cultivo da solidariedade, sai muito mais barato. Trata-se do caminho comprovado, utilizado com êxito em diversos países, para a redução da quantidade de infratores da lei.”

Confira:

O Brasil, nos últimos dias, vem sendo impactado com a divulgação da expressiva quantidade de valores descontados, indevidamente, das contas dos aposentados do INSS. À compreensível revolta das vítimas, somou-se este grave questionamento: qual a explicação possível para o fato de servidores graduados e profissionais de diversas áreas se envolverem na apropriação indevida de dinheiro pertencente a idosos indefesos, com a vida marcada por privações, sofrimentos e dificuldades de toda ordem?

Duas constatações exigem reflexões para que ilicitudes dessa magnitude contra pessoas vulneráveis jamais se repitam. A primeira refere-se à certeza da impunidade, que estimulou os infratores a investirem, diuturnamente, com tanta voracidade, sobre o patrimônio de suas vítimas. Cesare Beccaria, precursor do Direito Penal, demonstrou a necessidade de efetiva aplicação da sanção aos infratores para desencorajar a prática de novos delitos. A segunda está a exigir uma profunda mudança na grade curricular de todos os estabelecimentos de ensino no Brasil. É flagrante à ausência de estímulo ao cultivo dos valores da empatia, da compaixão e da integridade, necessários para a sedimentação de uma sociedade justa e solidária.

No site do MEC, destaca-se o “Programa Ética e Cidadania Construindo Valores na Escola e na Sociedade” que parece ter sido adotado de 2004 a 2007. A inclusão dessa disciplina na prova do Enem, com várias questões sobre esse tema, obrigaria as escolas a trabalharem os valores essenciais para conter a compulsão por ganhos ilícitos nas atividades privada e pública, garantindo-se, por via de consequência, a vivência com relações sociais saudáveis e uma maior proteção aos idosos que têm, no dinheiro da aposentadoria, a única fonte de renda para a sua sobrevivência.

Mais do que isso, contribuiria para melhorar a convivência entre as pessoas, reduzindo, em última análise, os gastos com a segurança pública. Não deixa de ser curiosa a situação. O cidadão é obrigado a pagar pela proteção do seu prédio. Pagar, ainda, crescentes impostos para que o Estado mantenha uma gigantesca estrutura, envolvendo gastos com a atuação da polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário para aplicação das sanções aos infratores, que violam o direito à vida e à propriedade das pessoas. Reconhecida a culpa e a periculosidade dos delinquentes, os pagadores de impostos são convocados a bancar as despesas com o encarceramento, compreendendo alimentação, saúde e segurança do sistema penal.

Analisado o quadro com lucidez, passa da hora de serem direcionados, pesadamente, investimentos na educação com qualidade no ensino fundamental e básico. No conceito de Educação com qualidade devem ser incluídas a transmissão de VALORES e a transmissão de saber, com escola de tempo integral com excelência e boa alimentação, para todas as crianças e jovens.

Tem ficado muito claro para a sociedade que investir parte expressiva do orçamento na educação, com ênfase na integridade e no cultivo da solidariedade, sai muito mais barato. Trata-se do caminho comprovado, utilizado com êxito em diversos países, para a redução da quantidade de infratores da lei.

A questão é matemática. O modelo atual, além de muito dispendioso, se notabiliza pelo agigantamento do aparato repressor do Estado, sem que se possa atender ao celular na rua sem risco de assalto e sem perigo, também, de serem os idosos furtados, sem sequer saírem de casa, por pessoas que frequentaram escolas, inclusive de nível superior, sem compromisso algum com a propagação e prática da Ética.

*Djalma Pinto

Advogado, mestre em Ciência Política e autor de diversos livros entre os quais “Ética na Política”, “Distorções do Poder” e “Cidade da Juventude”.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (2)

  • Boa Noite companheiro
    Me sinto valorizado com sua lembrança deste humilde cidadão. Aliás, todos nós somos carentes de atenção, solidariedade e empatia. Digo isso para mostrar uma coincidência. Parece com o que você sugere para ser aplicado na Educação. Não é coincidência. Educar um neófito exige integridade, confiança e reconhecimento. Exige empatia. Quem educa precisa ter Educação/conhecimento. Mas, para administrar qualquer área se exige caráter. Sem caráter do educador ou administrador o melhor sistema não funciona; a melhor legislação é inútil. Hoje temos pessoas comissionadas no serviço público que falseiam a verdade. Quem mente é capaz de roubar... quem é capaz de roubar pode matar...

  • Dr. Djalma, sempre abordando temas atuais, e, em defesa da cidadania e da moralidade pública. Merece o respeito e gratidão das pessoas de bem. É realidade inconteste que, os bons costumes devem ser apregoados logo na educação básica, em todas as escolas, inclusive, como o ilustre articulista sugere, como assunto do ENEM. Seria realmente, uma forma de contribuir contra a formação de delinquentes, nas mais das vezes, de abastadas famílias.
    Parabéns !

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