“Eles chegaram lá, SIM!” – Por Mirelle Costa

Emanuela Ribeiro, autora de “O Romper das Conchas”

Tem uma música da Kell Smith que diz “Cuidado com esse conceito torturante do que é VENCER NA VIDA Enquanto você se esgota competindo com você no fim só tem o fim da corrida Colha o momento!”

Cearenses semifinalistas e finalistas estiveram na “peinha” de colocar as mãos nos troféus mais importantes da literatura brasileira, como o Jabuti, e da língua portuguesa, como o Oceanos.

Mas antes de cruzar a linha de chegada com os dois pés, é preciso colocar um na linha de partida. E, pra isso, é preciso acreditar. Que ato de rebeldia, hein, meus amigos?

A vocês, meus aplausos, meu respeito, minha pompa e o melhor que posso ofertar: a minha Escrita.

Vocês são vencedores e eu posso provar!

Emanuela Ribeiro quase foi prejudicada pela síndrome da impostora que habita em muitas de nós, mulheres. Se não fosse o marido dela e a editora “Caos e Letras”, ela não teria se inscrito no Prêmio Jabuti de Literatura, em 2024, e, assim, perderia a chance de ter sua obra e seu nome eternizados na semifinal da premiação, na categoria Escritor Estreante – Romance. Ela recebeu a notícia em um dia super caótico no trabalho, pois, muitos de nós, escritores, exercemos diariamente outras atividades que não estão ligadas à literatura, mas que nos dão o sustento para continuarmos escrevendo. Trabalhou normalmente como servidora pública como se nada estivesse acontecendo naquele dia (mesmo com a notícia que sua primeira obra era semifinalista do Jabuti), cumpriu todas as tarefas com excelência e, ao chegar em casa, despida das obrigações, permitiu-se celebrar com a família. “Eu enxergo a semifinal do Jabuti como uma validação da Emanuela que, no auge dos seus doze anos, escondia-se na biblioteca para escrever. Meu esposo acreditou tanto em mim que comprou passagem antecipadamente para o Rio de Janeiro, onde houve a entrega do prêmio. Eu cheguei aonde nunca imaginei que chegaria e tive o reconhecimento que jamais pensei que teria. Colhi muitos frutos dessa semifinal, inclusive a minha obra “O Romper das Conchas” terá sua segunda reimpressão. Mudou algo dentro de mim, mesmo. Eu me assumi como escritora. Esse reconhecimento ainda é um tabu para muitos autores. Estar entre os dez com uma banca de avaliação criteriosa me fez entender que o que eu escrevo tem, sim, muito valor. Junto com tudo isso veio também a expectativa de uma segunda obra, que não vem fácil, pois o tempo é bem dividido”.

A obra semifinalista do Jabuti de 2024 é um drama familiar que conta a história de duas irmãs, Clarice e Letícia, e o reencontro delas após o falecimento da mãe. A história é narrada pelas duas filhas. O luto é a moldura para várias temáticas trabalhadas, como a saúde mental, o abandono, a violência doméstica familiar e até o silêncio tem lugar de destaque na narrativa. Vale a pena ler e orgulhar-se dessa cearense escritora que jogou sua obra e seus medos no mundo.

Não foi a primeira vez que o escritor Raymundo Netto viu seu nome nas listas esperadas do Jabuti. Em 2017, foi finalista do prêmio com “As Crônicas Absurdas de Segunda”. Agora, em 2025, foi semifinalista da mesma premiação e na mesma categoria. Desta vez, com a obra “Coisas Engraçadas de Não Se Rir”. “Ser indicado ao Jabuti dá autoridade ao escritor. Esse reconhecimento dado pela Câmara Brasileira do Livro é importante pelo grande número de concorrentes, então, claro que é um privilégio. Percebi um engajamento grande nas minhas redes sociais, até mais do que na edição de 2017. A quantidade de mensagens que recebi me surpreendeu realmente. Eu soube da notícia pelo escritor e amigo Mailson Furtado. O livro foi publicado de forma independente, por meio de uma vaquinha virtual, então, realmente foi algo muito significativo. Eu sempre senti uma alegria grande ao ler crônicas. A literatura só tem me dado bons presentes. Eu acho que eu só preciso ter mais tempo pra comemorar. Ultimamente, não tenho tido muito tempo nem pra festejar nem pra sofrer (risos)”, explica o escritor, produtor cultural, editor e autor de livros ficção, ensaios e infantis.

A obra “Coisas Engraçadas de Não Se Rir” nasceu de temáticas que Raymundo Netto já abordava no jornal O Povo. Antes de pensar em tornar-se uma obra semifinalista do Jabuti, a ideia do livro era ousada, ao contemplar temáticas picantes com pitadas humorísticas em textos curtos, que expõem a hipocrisia da sociedade.

A obra vencedora do Jabuti de 2025 foi também um livro de crônicas, mesma categoria em que Raymundo Netto concorreu, inclusive, além da premiação do gênero também foi eleito o Livro do Ano. “Eu fiquei muito feliz por ser um livro do Ruy Castro, ainda mais falando sobre Tom Jobim, um grande vencedor”, conta Raymundo Netto.

Raymundo Netto no lançamento da obra que aconteceu na Biblioteca Pública do Ceará, a BECE

Ana Márcia Diógenes esbanja celebração (corre aqui, Raymundo Netto). Para ela, cada feito em reverência à divulgação da literatura é uma felicitância. “Quando eu vi meu nome na lista dos semifinalistas do Prêmio Oceanos, dei um grito tão grande que o Miguel, meu esposo, assustou-se (risos). Estar entre os vinte e cinco finalistas na categoria prosa foi inacreditável, pois vemos como algo muito distante, pela quantidade de inscritos, no caso, mais de três mil concorrentes de todos os países de língua portuguesa. Em termos de reconhecimento, ser uma semifinalista do Oceanos tem sido muito bonito, mas tenho consciência de que prêmio não significa tudo, pois é uma escolha subjetiva. Eu acredito muito na minha escrita, mas, obviamente, estar na semifinal dessa premiação me deu mais autoconfiança e clareza no meu propósito. Na literatura, estamos sempre à prova”, reflete Ana Márcia Diógenes.

O ponto de partida da obra foi há seis anos, a partir da observação e escuta de pessoas em situação de rua pela escritora Ana Márcia Diógenes. As oficinas de escrita amadureceram o romance. Buraco de dentro é todo narrado em fluxo de consciência. Mais do que uma ficção, é a representação de uma realidade: a das invisibilidades que compõem cenários das grandes cidades. Mostra a quebra de limites humanos que leva uma família – homem, mulher e três crianças – a se esconder por dias num bueiro, abaixo do nível da calçada, com fome, sede, diante de ratos e baratas para sobreviver.

Ana Márcia Diógenes e a obra semifinalista do Oceanos de 2025

Conhecer as histórias desses vencedores me faz refletir que o prazer de ver seu nome entre dez ou cinco de milhares de concorrentes só não deve ser maior que o prazer da própria escrita.

Parabéns, Colegas!

Mirelle Costa: Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing. Possui experiência como professora na área de jornalismo para tevê e mídias eletrônicas. Já foi apresentadora, produtora, editora e repórter de tevê, além de colunista em jornal impresso. Possui premiações em comunicação, como o Prêmio Gandhi de Comunicação (2021) e Prêmio CBIC de Comunicação (2014). Autora do livro de crônicas Não Preciso ser Fake, lançado na biblioteca pública do Ceará, em 2022. Participou como expositora da Bienal Internacional do Livro no Ceará, em 2022.

Ver comentários (4)

  • Parabéns aos cearenses e parabéns a você por falar sobre

  • Mirelle, também cronista, é muito atenta ao que acontece no meio literário, além da gentileza de sempre nos convidar para suas entrevistas.
    O Ceará tem, ultimamente, estado sempre presente nessas listas das melhores premiações brasileiras ou mesmo às do exterior. Isso é muito positivo e comprova a qualidade do que está sendo produzido.

  • Suas matérias são grandes colaborações para a literatura e a cultura.
    Muito obrigada pela reportagem!

  • Que alegria ver um pedacinho da minha história retratada nesse texto. A literatura cearense tem muitas vozes potentes, e textos como o da Mirelle ajudam a espalhar essa força por aí. Gratidão pela escuta e pela sensibilidade!

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