“Elmano faz política ao tempo em que a analisa” – Por Carlos Holanda

Carlos Holanda é jornalista, com experiência na Política. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “Elmano faz política ao tempo em que a analisa”, eis artigo de Carlos Holanda, jornalista. “Em entrevista, o governador soube calibrar o tom com o qual avaliou os temas colocados, revezando-se ora em político, ora como analista político.

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A atividade política ocorre mesmo em tempo integral. Por uma hora e meia, o governador Elmano de Freitas (PT) foi entrevistado pelo podcast As Cunhãs. Kamila Fernandes, Inês Aparecida e Hébely Rebouças questionaram o petista sobre segurança, educação, cultura e demais temas de gestão. E, é claro, sobre política. A que se exercita nos campos do governismo e da oposição. O governador não se esquivou de assuntos espinhosos que foram propostos pelas jornalistas.

Conciliou dois tons principais à mesa: o de observador neutro, que analisa o quadro todo à distância, e o de político, diretamente inserido no quadro analisado. Em alguns momentos, analista político e político se manifestaram ao mesmo tempo, por meio da mesma voz. Em outros, uma dimensão predominou sobre outra.

Sobre o caso Júnior Mano (PSB), escolhido por Cid Gomes (PSB) para disputar o Senado em seu lugar, a palavra-chave foi cautela. O deputado federal do PSB está no centro de uma investigação da Polícia Federal que indica suposta compra de votos no Ceará, em 51 municípios, com dinheiro desviado de emendas parlamentares.

Sabedor de que tem o tempo como aliado, Elmano afirmou que a escolha será feita em 2026. Até lá, é possível que a Justiça já tenha tomado uma decisão que ele e Camilo Santana (PT), membros do núcleo decisório da aliança, não precisarão tomar diretamente. A vaga que Cid Gomes pretende ver preenchida por Mano é cobiçada por vários aliados do Palácio da Abolição, entre os quais José Guimarães (PT), Chagas Vieira (sem filiação), Eunício Oliveira (MDB) e Chiquinho Feitosa (Republicanos). São duas vagas ao Senado na chapa majoritária.

“O senador Cid tem suas convicções, e eu tenho muito respeito por ele. Mas eu, como governador, prefiro aguardar a gente ter lá na frente a convicção e ter todos os elementos para tomar a decisão”, disse Elmano, em demonstração de respeito ao tempo jurídico e político das coisas.

Ao falar de Ciro Gomes e Roberto Cláudio, o governador fez uma avaliação conforme a qual ambos incorrem no equívoco de entenderem que, na “luta política” corrente, haveria espaço para uma alternativa entre o “campo democrático” e a “extrema-direita”. “Eu não gostaria de ter a extrema-direita forte no Brasil, mas ela é, ela é forte”, disse o analista político.

Na esteira do comentário acima, Elmano deu sua contribuição para o aprofundamento do desgaste inicial que se observa entre André Fernandes e os aliados Ciro e Roberto Cláudio. Fernandes anunciou que o PL terá candidato próprio ao Governo, frustrando, por ora, os planos da oposição unificada e liderada por Roberto ou Ciro.

O governador disse que Roberto imagina que Fernandes é “tolo” — em razão da juventude — ao pensar que ele, Fernandes, irá fazê-lo governador para depois vê-lo acabar com ele. “Evidentemente, ele (Fernandes) percebeu”, disse o político.

Ainda sobre Ciro e Roberto Cláudio, Elmano afirmou que a história irá cobrá-los por terem apoiado Fernandes em 2024 — contra Evandro Leitão, atual prefeito —, ainda que do alto do “grau de conhecimento político e cultural” que os dois possuem. Um elogio inserido no guarda-chuva da crítica.

Na parte final da conversa, Elmano falou sobre os dois adversários de maneira isolada. Primeiro, situou Roberto Cláudio num “limbo”. Ou seja, Elmano avalia que ele se movimentou para a direita e perdeu dos dois lados: a direita sabe que ele não é de direita, ao que a esquerda já não confia mais nele.

Indagado sobre Ciro, fez uma análise de que o ex-ministro, ocupado demais com questões nacionais, é superficial nas críticas que faz ao governo do Ceará e ao grupo político que o controla.

Elmano enfatizou que Ciro está “há muitos anos” envolvido no debate nacional, razão pela qual acredita que o ex-aliado quer ser novamente candidato a presidente, não a governador. Mas ponderou: “Ele está se posicionando como possibilidade para uma coisa ou para outra”.

Na política, disse Elmano às Cunhãs, a gente aprende que valem muito os gestos. Uma entrevista pode ser uma usina de gestos políticos.

*Carlos Holanda

Jornalista, que esteve no O POVO de 2017 a 2024, foi repórter especial de Política e assinou coluna sobre a desinformação e suas repercussões no debate público.

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Uma resposta

  1. As Cunhãs agradecem ao colega Carlos Holanda por ter ouvido com tanta atenção a entrevista que o governador Elmano de Freitas nos concedeu.
    Muito bacana a análise do Carlos sobre as declarações do governador

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