Com o título “Emendas parlamentares”, eis artigo de Djalma Pinto, autor de diversos livros entre os quais “Ética na Política”, “Marketing Política e Sociedade”, “Infratores no Poder”, “Direito Eleitoral – Anotações e Temas Polêmicos”, “Distorções do Poder”, “A Cidade da Juventude”, “O Direito e o Comprovante Impresso do Voto”, mestre em Ciência Política e advogado. “O dinheiro desviado não nasce em árvore. Por isso, não pode ser utilizado de forma criminosa por quem tem a prerrogativa de aplicá-lo”, expõe o articulista.
Confira:
As discussões relacionadas com o uso indevido das emendas parlamentares têm como causa básica o desrespeito patológico ao dinheiro público. A pobreza e a desigualdade crescentes persistem pela incapacidade de a sociedade brasileira formar, ao longo do tempo, uma classe política capaz de compreender que verba pública é coisa sagrada porque provém do esforço e do trabalho de cada cidadão, que paga os tributos para custear todas as despesas do Estado. O dinheiro desviado não nasce em árvore. Por isso, não pode ser utilizado de forma criminosa por quem tem a prerrogativa de aplicá-lo.
Stuart Mill, grande filósofo inglês, detectou na consciência fraca de muitos representantes do povo, a causa para tanta predisposição ao assalto do dinheiro da população . Explicou ele: “Não é por seus desejos serem fortes que os homens agem mal; é porque as suas consciências são fracas”.
Certos homens públicos “são fracos de caráter” porque a sociedade, as famílias e as escolas não abordam nem tratam o ataque aos cofres públicos com a seriedade que esse delito exige. Não têm sequer uma noção de sua malignidade. Isso explica, por exemplo, a recorrência das reiteradas denúncias de má-aplicação dos recursos. As chamadas “emendas PIX”, pela falta de transparência, estimulam esses desvios. Daí a necessidade de uma atuação mais vigorosa dos órgãos de fiscalização para conter o injustificado desperdício das verbas remetidas aos municípios nessa rubrica.
Uma vez comprovados os desvios, a punição exemplar deve recair sobre todo e qualquer infrator, independentemente da vinculação partidária. É a certeza da impunidade que estimula o espantoso desvio do dinheiro pago pelos contribuintes. Impotentes, diante de tantas irregularidades, são estes desestimulados para o cumprimento de suas obrigações fiscais.
A “normalidade”, com que ilicitudes dessa gravidade são tratadas pela sociedade em geral, mostra o tamanho do desafio a ser enfrentado pelas novas gerações para combatê-las. A banalização dos desvios e o volume das infrações com a utilização do dinheiro das emendas, inclusive na compra de voto, estão a reclamar uma reação eficaz para impedir o agravamento da dilapidação.
No mais recente escândalo, noticiado pelo g1, a Polícia Federal teria descoberto um “contrato de propina”, por meio do qual uma empresa no Sul se obrigava a repassar dinheiro de emenda parlamentar a um hospital, mediante o pagamento de 6% do valor “captado”.
O passar incessante do tempo demonstra, porém, que os assaltantes de verbas públicas, sem exceção, envelhecem e, posteriormente, morrem sem nada levar. Contribuem apenas para agravar a pobreza e a infelicidade dos eleitores que os investiram no poder para atuarem em seu nome.
Educação para o manejo correto do dinheiro público e punição exemplar para os que ousam desviá-lo são os dois caminhos a serem trilhados para reversão dessa chaga, que envergonha a Nação e pune, de forma implacável, os pagadores de impostos. Sentem estes na própria pele essa constatação de Rousseau, feita no século XVIII: “Nada mais perigoso do que o poder nas mãos de quem não sabe usá-lo”.
*Djalma Pinto
Autor de diversos livros entre os quais “Ética na Política”, “Marketing Política e Sociedade”, “Infratores no Poder”, “Direito Eleitoral – Anotações e Temas Polêmicos”, “Distorções do Poder”, “A Cidade da Juventude”, “O Direito e o Comprovante Impresso do Voto”, mestre em Ciência Política e advogado.
Ver comentários (2)
Lógico que sempre é um excelente artigo.
Destaco
Não têm sequer uma noção de sua malignidade.
É a certeza da impunidade que estimula o espantoso desvio do dinheiro pago pelos contribuintes.
Lamentavelmente esses desvios geram mais mortes que uma PANDEMIA, pois a população ainda não tem SANEAMENTO, SAÚDE e EDUCAÇÃO.
Da mesma forma as absurdas operações TAPA BURACOS que nunca resolvem os problemas e causam prejuízos a todos.
Obrigado Djalma Pinto.
Obrigado Eliomar por compartilhar.
Ao longo dos tempos vi várias denúncias de que as emendas parlamentares têm servido para a manutenção de esquemas de corrupção. O próprio Arthur Lira possui denúncia de desvios de emendas que foi reafirmada agora em mais outra recente denúncia contra ele divulgada pelo deputado Glauber Rocha (Psol). Tudo isso contrariando orientação do ministro Dino. A denúncia foi apresentada na tribuna federal e na polícia federal. De modo geral, o fato é que o volume destacado do Orçamento para essa destinação cria ambiente propício a múltiplos esquemas. Pior que isso, como muito dinheiro dá muito trabalho, o resultado é gerar desvio de foco do parlamentar com as principais carências de atenção do congresso.