“Deixaram claro que a governança corporativa bem-sucedida começa com a capacidade de formar uma boa equipe, tendo como ingredientes necessários a seriedade, a busca da inovação e a cultura de valores”, aponta o advogado Djalma Pinto. Confira:
No dia 20 de junho deste ano, realizou-se um evento promovido pelo Grupo M7 com a participação dos jovens dirigentes das grandes empresas do Ceará. Em cada painel, os expositores faziam um resumo do modelo adotado por sua organização para crescer no mercado, conquistando a simpatia dos consumidores.
Deixaram claro que a governança corporativa bem-sucedida começa com a capacidade de formar uma boa equipe, tendo como ingredientes necessários a seriedade, a busca da inovação e a cultura de valores. Um ponto, porém, chamou a atenção. A diferença abissal entre a gerência exitosa do setor privado e a gestão praticada pelos entes públicos. A consequência imediata da ineficiência da Administração é a perpetuação da pobreza. Prova eloquente disso é a histórica incapacidade de oferecer condições para que as pessoas, que precisam dos auxílios estatais para sobreviver, saiam da dolorosa zona de indigência.
A fórmula comum para o sucesso das empresas privadas é a crescente qualificação de seus dirigentes. Na medida em que crescem, transferem mais e mais recursos ao setor público, via pagamento de tributos, para serem aplicados e gerenciados por uma governança, cuja regra geral é a ausência de compromisso com a meritocracia. A previsão da ineficiência é bem perceptível a partir das nomeações para cargos de confiança sem exigência de competência, dedicação e idoneidade.
A questão crucial é: por que a boa governança do setor privado não se estende ao setor público? Por que a sociedade não educa os seus integrantes para a cidadania? Mais especificamente, por que não há preocupação com a qualificação da pessoa para o exercício do poder político? A comprovação mais eloquente desse espantoso déficit reside na recorrente compra e venda do voto. Essa anomalia sepulta a legitimidade de qualquer indivíduo, que se valeu desse expediente escuso para conquistar o mandato, mesmo quando não seja ele alcançado pelo aparato repressor do Estado. A desonra por tamanha ilicitude acabará por atormentar a consciência de quem praticou captação ilícita de sufrágio para se eleger.
O Coordenador Geral da Associação dos Jovens Empresários de Fortaleza AJE, Lucas Melo, fez circular, nas redes sociais, um texto incentivando os empresários a se envolverem na política. Merece destaque sua oportuna ponderação: “Foco no Bem Comum: O objetivo deve ser sempre promover o bem comum e não apenas interesses pessoais ou empresariais. Educação Política: Os empresários devem se educar sobre o processo político e legal para participar de forma eficaz e informada. Participação Ativa: Além de apoiar candidatos e políticas, os empresários podem considerar se candidatar a cargos públicos ou participar de comitês e conselhos que influenciam políticas públicas. Envolver-se na política pode ser uma ferramenta poderosa para os empresários, permitindo-lhes influenciar positivamente o ambiente de negócios e a sociedade como um todo.”
Não deixa de ser um alento para o Ceará os jovens empresários colocarem, na pauta das discussões, o tema EDUCAÇÃO POLÍTICA, historicamente negligenciado nos currículos escolares. Aliás, o descaso com essa matéria responde pelas recorrentes manchetes, noticiando apreensões de dinheiro desviado da Administração por pessoas que estudaram nos melhores colégios e faculdades de suas cidades.
Educar para o poder político se resume em solidificar na mente de cada pessoa a percepção de que o seu exercício de destina, exclusivamente, a servir à coletividade. Jamais ao interesse particular de quem recebeu a delegação do povo para exercê-lo em seu nome. Em pleno século XXI, não se justifica o persistente descaso para com o patrimônio público e a prevalência da máxima: “o que pertence a todos não é de ninguém”. Na cultura dominante, se defende apenas o patrimônio privado.
Nos condomínios, por exemplo, os condôminos elegem o síndico para conduzir a sua governança, zelar por suas receitas e despesas. Sabe este dos seus encargos e da vigilância que os pagadores das respectivas taxas exercem, exigindo a correta aplicação dos recursos por eles desembolsados. Comprovado qualquer desvio ou má aplicação do dinheiro arrecadado, providenciam, em assembleia, a destituição daquele que, embora eleito, não soube gerenciar com rigor o dinheiro que lhe foi confiado.
A cidade, bem comparando, é um grande condomínio. O chefe do Executivo equipara-se ao síndico e os parlamentares são os delegados da assembleia dos condôminos para fiscalizá-lo e para elaborarem as regras de observância obrigatória por todos os moradores. A ineficiência, o desperdício de dinheiro e a corrupção atestam a necessidade de priorização da educação política. Abrange ela a conscientização sobre a finalidade do mandato eletivo e a necessidade de efetiva aplicação das leis de proteção à Administração pública.
Ao propor uma reflexão sobre a importância da Educação Política, o Coordenador da AJE comprova a atualidade desta advertência de Henry Ford, fundador da Ford Motor Company: “O novo é sempre considerado estranho, e alguns de nós são tão empedernidos que nunca conseguimos ultrapassar o pensamento de que qualquer coisa nova deve ser estranha e provavelmente esquisita. […] O progresso começa dentro do próprio homem; quando ele avança de meio interesse para força de propósito; quando avança da hesitação para a objetividade decisiva.”
Nada mais recomendável para a garantia da prosperidade de um povo do que a contribuição de empresários honestos, bem-sucedidos, libertos do patrimonialismo, capazes de trazer para a governança pública as experiências inovadoras e bem-sucedidas das organizações sob sua direção geradoras de emprego e renda para milhares de pessoas. A propósito, a melhor qualidade do ensino fundamental oferecido pelas escolas particulares, quando comparado ao disponibilizado pelas escolas públicas, decorre da dessemelhança na forma de gestão. Nessa diferença, uma das causas determinantes da pobreza no País.
Djalma Pinto é advogado, autor de diversos livros, entre quais Pesquisas Eleitorais e a Impressão do Voto; Ética na Política e Distorções do Poder