“O que engancha é a força daquele sentimento que nos acompanha desde a infância: o tal medo de assumir as consequências, de se arrepender”, aponta a jornalista Ana Márcia Diógenes
Confira:
Vou dizer algo que a princípio pode ser estranho em relação aos clichês: só é difícil dizer adeus quando a gente não tem certeza de querer dizer adeus. A meu ver, o problema não estaria em encerrar ciclos se não fossemos nós mesmos os que estivessem em dúvida de realmente querer dar um ponto final a uma situação que não faz mais sentido.
Dizer adeus é L I B E R T A D O R quando conseguimos transitar até o final do processo de reconhecimento de que está no momento de mudar. O que engancha é a força daquele sentimento que nos acompanha desde a infância: o tal medo de assumir as consequências, de se arrepender, de conviver com a possibilidade de que o que agora representa um peso, lá na frente possa significar ausência.
Nesta questão de encerrar ciclos me vem diretamente à memória, a quantidade de mulheres que decidem encerrar ciclos de relações abusivas, mas são vítimas de companheiros que não sabem receber um adeus. Para pessoas de comportamento egoísta e obsessivo só elas podem tomar a decisão de pôr fim aos ciclos.
Me lembra também o número de pessoas vítimas de burnout nos seus trabalhos, mas que não conseguem tomar a decisão de se arriscar em busca de um novo emprego ou partir para ter seu negócio. Um ex-chefe me disse uma vez que viu gente morrer em um trabalho que prejudicava sua saúde, ao invés de encerrar o ciclo e tentar se manter viva, com uma ocupação que permitisse melhor qualidade de vida.
Como o ano está beirando o fim e esta época a gente se propõe a novos planos e possibilidades, sugiro uma boa reflexão sobre encerrar ciclos e abrir potências para que outros rumos tenham espaço para compor nosso caminho.
Ana Márcia Diógenes é jornalista e escritora
