“Então é Natal na família Bolsonaro” – Por luiz Henrique Campos

Retrato da família? Foto: Instagram

Com o título “Então é Natal na família Bolsonaro”, eis a coluna “Fora das 4 Linhas”, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos. “O ambiente que deveria ser de confraternização virou um daqueles natais tensos, onde a família sorri para a foto, mas pensa em tacar a rabanada na cabeça de alguém. No centro do presépio político, Ciro, o penetra na festa natalina do clã, preferiu desempenhar o papel do boi calado. Recolheu-se, rabo entre as pernas, fingindo não ver o barraco armado ao redor”, expõe o colunista.

Confira:

É hora do almoço, e de Natal, como cantaria o eterno Belchior, mas, na mesa da família Bolsonaro, o espírito natalino parece ter sido trocado por um peru recheado de confusão que teima em não ser símbolo da tradição. Na canção do compositor cearense, todos estão reunidos, porém ninguém se entende. Aqui, na mesa do mito, a cena é parecida, só que com mais glitter patriota e menos vontade de paz. As luzes piscam, o presépio brilha, mas o clima lembra mais briga por herança do que celebração cristã.

Se o próprio Belchior retratava um almoço caótico, imagine um com guirlandas, ressentimentos e um punhado de líderes da direita e suas visões próprias de Deus, pátria e família. A faísca natalina da discórdia veio da madrasta Michelle Bolsonaro, que decidiu retirar o apoio a Ciro Gomes, prestar suas gentis críticas natalinas a André Fernandes e ainda provocar reações atravessadas dos filhos do ex-presidente, tudo embalado no papel laminado da ironia. Nada de amigo secreto ou troca de presentes. O que houve foi troca de indiretas, farpas e aquele tipo de “feliz Natal” que ninguém acredita.

O ambiente que deveria ser de confraternização virou um daqueles natais tensos, onde a família sorri para a foto, mas pensa em tacar a rabanada na cabeça de alguém. No centro do presépio político, Ciro, o penetra na festa natalina do clã, preferiu desempenhar o papel do boi calado. Recolheu-se, rabo entre as pernas, fingindo não ver o barraco armado ao redor. Já André Fernandes experimentou humilhação que, se fosse ceia, seria daquelas que ninguém esquece, e que alguns ainda repetem no almoço do dia 25 no famoso RO.

Enquanto isso, a direita local, nos seus cafés semanais, circula entre as cadeiras, tentando decidir se canta “Noite Feliz” ou “Bate o Sino”, mas sem conseguir combinar a letra nem o tom. A mesa continua posta, as bolas brilhando na árvore, mas a família política mais famosa do país segue disputando cada migalha da herança eleitoral como se fosse o último pedaço do panetone. Entre discursos desencontrados, silêncios calculados e ataques travestidos de discurso moral, o almoço natalino virou um banquete de desalinhamentos.

Na tentativa de salvar as aparências, todos sorriem para o retrato, mas com a certeza de que alguém vai reclamar do peru estar seco só para provocar. E então é Natal, a festa cristã. Tempo de fartura, de “paz na Terra”, de renovação. Mas, como muitas famílias brasileiras sabem, nem sempre a mesa cheia garante harmonia. Na família Bolsonaro, o clima natalino não apagou as desavenças, só as iluminou com luzes coloridas. Assim, entre rabanadas amargas e discursos entalados, fica a sensação de que Belchior tinha razão: é hora do almoço, e de Natal, mas ninguém ali parece disposto a engolir nada sem antes lançar a primeira garfada.

*Luiz Henrique Campos

Jornalista e titular da coluna “Fora das 4 Linhas”.

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