“Teremos eleições no próximo ano. O grande desafio é quem se mostrará apto a incentivar uma cultura de integridade para reformular os valores destrutivos”, aponta o advogado Djalma Pinto
Confira:
A vida e as ações das pessoas, que habitam as cidades atualmente, projetam uma invisível síntese da cultura exuberante ou do atraso dos seus antepassados. Vivemos em uma sociedade violenta, desigual, injusta e com governantes egocêntricos, incapazes de priorizar a educação como instrumento de transmissão de saber e de valores.
É fato incontroverso que, como regra, os responsáveis pela nossa governança têm se mostrado, ao longo do tempo, incapazes de priorizar o interesse superior da coletividade. Por isso nos legaram predicados negativos, que estão na raiz das causas que hoje infelicitam a vida de todos.
Esses infortúnios não decorrem de pragas do inferno. Não. A expulsão de famílias de suas moradias, a vergonhosa compulsão motivadora do assalto ao dinheiro dos aposentados, tudo isso é, exclusivamente, fruto dos equívocos e dos maus exemplos dos nossos antepassados. A maioria dos quais, sem sofrer sanção alguma pelos seus ilícitos, contribuíram para a consolidação da ideia de que o crime compensa.
Parece paradoxal, mas o único governante no País que, efetivamente, compreendeu a importância do papel da educação para o desenvolvimento de um povo foi o Imperador D. Pedro II, imortalizado por sua declaração: “Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.”
Aqueles que o sucederam, após a destituição do trono, sequer sabiam o que era República. Não tinham noção dos danos causados às gerações posteriores pela cultura do patrimonialismo, que passaram a sedimentar.
O clientelismo, o uso do poder para comprar voto, para perseguir adversários, nomear parentes e correligionários para cargos relevantes, sem apreço algum pela meritocracia nem pela integridade, enfim, o uso do poder para enriquecer constitui-se uma reconhecida herança maldita. Responde pelas abomináveis sequelas da nossa sociedade, notadamente por esta triste constatação dos contemporâneos: ninguém confia em ninguém. Assalta-se até verba da educação!
Teremos eleições no próximo ano. O grande desafio é quem se mostrará apto a incentivar uma cultura de integridade para reformular os valores destrutivos, que ficaram impregnados na sociedade, marcada pelo uso do poder em detrimento dos pagadores de impostos.
Oportuna se mostra uma retrospectiva histórica para sinalização da motivação inicial dessa cruzada. Todos os nossos antepassados, que se valeram do poder para enriquecer ou extrair proveito pessoal, foram lançados no lixão da história para um eterno esquecimento. Os próprios parentes mais próximos sentem o desconforto das lembranças de suas ações causadoras de vexame social.
Daí a necessidade do incentivo à propagação da cultura de integridade, para que crianças e jovens sejam motivados a viverem sem causar dano ao próximo, muito
menos ao Estado, quando vierem a ser investidos no poder. As mazelas, que nos impedem de andar sem correr risco nas ruas, decorrem dos erros de governantes nocivos à coletividade, que acabaram prestigiados com a ausência de sanção para as ilicitudes praticadas. A certeza da impunidade descredencia qualquer sociedade para usufruir a paz e a prosperidade.
A cultura da integridade e da justiça, assimilada por todos, contribui para harmonia social. Torna a aplicação da lei sem sobressalto, com elevação da respeitabilidade dos responsáveis pela concretização das sanções nela previstas.
Djalma Pinto é advogado e autor de diversos livros, entre os quais, Distorções do Poder, Marketing, Política e Sociedade, Distorções do Poder, Cidade da Juventude, Direito Eleitoral, Anotações e Temas Polêmicos