“Vivemos uma crise de legitimidade do modelo político, por não corresponder às necessidades de participação e de mudança da sociedade”, aponta o advogado e professor Irapuan Diniz de Aguiar
Confira:
Os episódios que vêm ocorrendo no parlamento brasileiro fartamente expostos pela mídia, demonstram a total falta de compromisso dos nossos representantes com os interesses coletivos e cristaliza a crise moral. O que preside as ações e os comportamentos dos parlamentares é a preocupação, só e tão somente, com a própria manutenção no poder e a obtenção de vantagens pessoais, conduzindo-se por uma inclinação devassa que chega a enojar. Esta realidade, ao tempo em que desencanta e desestimula os eleitores, permite que se possa refletir sobre as fontes dos infortúnios brasileiros, entre as quais a crescente crise ética e moral que se instalou no Legislativo. A grande disputa de espaços e a perene luta pelo poder faz com que deputados e senadores passem a ver seus colegas, não como oponentes nos debates das ideias, mas como competidores por conta de, em regra, seguirem cega obediência ao Olimpo, se desnudando dos valores que deveriam engrandecer seus mandatos. O Parlamento, dessa forma, fica dividido entre os que “pisam” e os que são “pisados” – colocando os iguais em planos diferentes.
Vivemos uma crise de legitimidade do modelo político, por não corresponder às necessidades de participação e de mudança da sociedade. Amarguramos uma crise de representatividade dos partidos políticos tradicionais, vinculados as oligarquias regionais e/ou aos mandatários de plantão. Antes da crise econômica ou política, experimentamos uma profunda crise ética e moral decorrente da fragilidade de tais práticas condenáveis no exercício do múnus público. A esperança de obter ganhos e espaços induz o Parlamentar a se submeter a determinações que lhe retiram a oportunidade de se afirmar como legítimo representante do povo o qual deixa de ser o “seu patrão”. A vontade do povo é substituída, por consequência, pelo desejo do governante.
A ética e a moral são valores do homem livre. Na ética se mede a forma pela qual o homem deve se comportar no meio social sendo, pois, a ciência da conduta humana. Ela está intimamente ligada ao caráter das pessoas. Na moral se avalia a qualidade desta conduta. A inobservância a estas regras de convivência humana dá lugar a toda sorte de posturas condenáveis que contaminam os que fazem o Parlamento, não só o apequenando diante dos olhos da sociedade mas, e especialmente, atingindo suas dignidades. A esta enfermidade que acomete os legisladores do país podemos denominar de ‘escoliose moral’ cuja cura é difícil porquanto para ela não tem remédio já que a mudança está na índole e na consciência de cada um dos detentores de mandato popular.
*Irapuan Diniz de Aguiar
Advogado e professor.