“Escrever pra criança é plantar semente” – Por Mirelle Costa

No mês da criança, vamos dar dicas de leitura infantil para todas as idades. Hoje eu trago os autores Bráulio Bessa, Vera Marques e Lucirene Façanha com suas crias. “Escrever pra criança é plantar semente. Escrever pra adulto é regá-la.  Para mim, a poesia tem poder de cura, então, quando escrevo para o adulto, posso estar tentando curar uma ferida que estava ali desde criança e, quando eu escrevo pra criança, eu tento protegê-la para que, quando adulta, ela não se machuque lá na frente”, disse Bráulio Bessa no programa Sem Censura, exibido na TV Brasil, no último dia 30 de setembro.

O poeta falou de Serena, seu primeiro livro dedicado às infâncias. Todo pintado à mão em aquarela pela ilustradora Ana Laura Alvarenga, é dedicado aos avós do artista. É um livro que fala da magia da infância e sobre pertencimento. “Serena sou eu também, Dedé Sapateiro é meu avô, Dona Maria costureira é vovó. Utuva é o primeiro nome da minha cidade, pois nomeia a vila onde Alto Santo nasceu, ou seja, a obra é uma história linda, forte e potente, que tem potencial pra tocar o coração de qualquer ser humano, afinal, a literatura infantil fala pros adultos também. Cada página é uma obra de arte. A ilustradora foi muito generosa em acolher e ser tocada pela poesia”, explica o Poeta Bráulio Bessa.

Com muita rima e um toque de magia, o livro conta uma história sobre união e esperança. Serena nasceu no sertão e veio ao mundo com uma chuvinha fraca que caiu antes de uma seca obstinada. Sempre quis voar e ver o mar – e nem mesmo essa grande seca secou sua esperança e conseguiu fazê-la parar de acreditar.

No dia de seu aniversário, a menina ganha dos avós lindos sapatinhos com asas. Quando os coloca nos pés, descobre que consegue voar e imagina que, com a ajuda dos amigos, será capaz de realizar o mais esperado dos milagres. A obra foi publicada pela Editora Sextante.

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Bráulio Bessa e a obra “Serena”

Conta outra, Vó!

Professora há décadas, a escritora Vera Marques conta que sempre estimulou o hábito da leitura entre as crianças e, como contadora de histórias, também era incentivada a escrever pelos outros colegas professores, o que só foi possível acontecer quando ela se aposentou.

“Os livros sempre foram sonhados por mim. Como menina, imaginava ser escritora. Quando ainda não sabia escrever, desenhava histórias nos cadernos e nas areias do Pirambu (lugar onde cresci). Assim como sempre que via qualquer comida na mesa, não dava trabalho para comer, também nunca botei banca pra ler! Devorava o que aparecia na frente, incluindo bula de remédio. Achava jornais no lixo e levava pra folhear em casa. Quando tive oportunidade, li Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José de Alencar e muitos outros. Vi nas minhas netas autistas uma inspiração, a obra “Conta outra, Vó – Contos para acordar” é uma homenagem inclusiva. O livro traz contos para acordar e refletir sobre as questões sociais e ambientais, portanto, são educativos. Falo sobre questões sociais e ambientais, como bullying, o uso de agrotóxicos, uso racional da água, inclusão e racismo. Escrevi a obra para concorrer em um concurso literário. Fui contemplada e, para a minha alegria, ele foi lançado na Bienal Internacional do Livro do Ceará. Foi a primeira oportunidade que eu tive com os leitores que ficaram encantados com o livro, principalmente com as gravuras”, alegra-se Vera Marques.

A obra “Conta outra, Vó – Contos para acordar” pode ser adquirida por meio das redes sociais da escritora @vera_marques02

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Vera Marques com a obra Conta Outra, Vó

Pedro e a noite de São João

Lucirene Façanha estreou na literatura infantil em 2024. Ao fazer um retorno ao próprio passado, ela admite que queria ter sido criança por mais tempo, assim não precisaria se afastar tão cedo dos pais para estudar. “Tenho saudades muitas das brincadeiras com liberdade, soltas, sem a comercialização e acúmulo de telas tão comuns hoje em dia”, conta a autora do livro “Pedro e a noite de São João”, que conta a história de um menino curioso que nasceu na capital e foi para a fazenda. Lá ele descobriu a ancestralidade e aprendeu a preservar a história, os animais, as colheitas e descobriu de onde vêm os alimentos do supermercado, as matas que circundam o rio, as fogueiras e comidas típicas, o sanfoneiro, música de Luiz Gonzaga e no final convida todos a contar sua própria experiência”, explica.

A escritora destaca o quanto é desafiador escrever para esse público tão exigente e, ao mesmo tempo, alerta sobre a responsabilidade de um adulto lançar um livro infantil. “É preciso haver todo um cuidado com palavras e expressões. O escritor infantil precisa ficar atento para não colocar na história algo que possa estimular alguma forma de preconceito ou apontar desigualdades e mesmo quando retratar temáticas importantes, precisa ser de forma leve. Vejo também que as crianças ficam atentas para capas mais coloridas e histórias fantásticas ou engraçadas, isso ajuda na compreensão e interpretação das histórias”, explica Lucirene Façanha.

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Lucirene Façanha com a sua obra “Pedro e a noite de São João”

E você, quais leituras da infância te marcaram? Eu lembro muitos dos meus tempos de paradidático, das obras da Ana Maria Machado que eu alugava na biblioteca, mas nenhum livro me marcou tanto na infância quanto um livro do fundo branco, com um céu lindo azul escuro e um arco-íris. Pelejei pra lembrar e, acreditem, lembrei que se tratava da obra “A Máquina de Pensar Bonito – Contra o Medo Que o Medo Faz” , um livro infantil do autor brasileiro Carlos Alberto Castelo Branco, publicado pela Salamandra e Moderna Editora.

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Respostas de 3

  1. Que jornalista maravilhosa! Sempre prestigiando escritores escritoras cerenses. Isso é pura generosidade, sendo que ela é uma excelente escritora.
    Estou muito lisonjeada de estar figurando nessa reportagem junto com Bráulio Bessa e Lucirene Façanha.
    Parabéns magnifica!

  2. Que lindo! Escrever para crianças é acreditar que é possível ter um mundo melhor.
    Obrigada por suas lindas palavras.

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