Com o título “Esse tal de Rock “N” Roll”, eis mis um conto da lavra de Totonho Laprovítera, arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.
“Rock ‘n’ Roll não se aprende nem se ensina.” (Raul Seixas)
Confira:
Desde menino, a música sempre esteve no meu eu. Lembro bem, ainda pivete, mexendo nos discos lá de casa, na sala de visitas. Era onde ficava a nossa elegante radiola de móvel – daquelas de alta fidelidade. E para reforçar o conjunto, um amplificador parrudo e duas miúdas e pesadas caixas acústicas da marca Telefunken, que botavam som de respeito na casa, na então distante Aldeota.
Tive a sorte de nascer em uma família que prezava pelas artes, pela cultura e pelas modernidades da época. De quebra, ainda líamos muito e discutíamos sobre o mundo e a vida. Mamãe tocava piano com habilidade. Papai era entusiasta da música e das novidades eletrônicas. Lá em casa, além de rádio e da televisão, tínhamos um gravador portátil com fitas magnéticas em rolo – coisa de ponta, naquela altura.
Nos anos 1960, toda sexta-feira, papai chegava em casa com uma pilha de discos da loja Vox, da qual era cliente habitual e amigo do dono. A tarefa era ótima: ouvir tudo e escolher os que ficariam. Referência em Fortaleza entre 1955 e 1979, a Vox foi inaugurada na entrada do Edifício Parente, na Rua Guilherme Rocha, e depois passou para uma loja no térreo do mesmo prédio, entre as ruas Barão do Rio Branco e Major Facundo. Depois abriu uma filial no Center Um – e, claro, continuei cliente.
E tome música! Seja no rádio, na radiola de móvel ou na vitrola portátil, a minha trilha sonora, a partir da infância, foi se formando ali, no vaivém dos discos. Lembro com graça da primeira vez que vi um compactado dos Beatles – li, do meu jeito, ao pé da letra: “Tchê Be-a-tles”. Era o inglês traduzido no ouvido nordestino de um menino curioso e recém alfabetizado.
Nos anos 1970, depois da Jovem Guarda e da Tropicália, tibunguei de vez no universo do rock. O que mais me agradava era o progressivo, mas ouvia também um bocado de heavy metal. No Brasil, eu me encantava com Os Mutantes, Rita Lee, Raul Seixas e a banda O Peso – nomes que desenharam meu gosto pelo rock feito por aqui.
Mas onde quero mesmo chegar é nos Festivais da Crédimus, que agitavam o cenário musical de Fortaleza. Lá surgia um rock de alma e ousadia. Mona Gadelha – ainda Simone – e a banda Perfume Azul, de Lúcio Ricardo e Siegbert Franklin, marcaram-me de admiração. As chamadas troavam na TV, e o teatro de arena lotava.
Corrijam-me se eu estiver enganado, mas sempre procurei estar por dentro do que se passava no mundo das artes, sobretudo no eixo Rio-São Paulo. E por isso digo, com convicção: os jovens roqueiros de Fortaleza foram pioneiros. Estavam fazendo história antes mesmo do país inteiro perceber o nascimento de um novo movimento do rock nacional.
*Totonho Laprovítera
Arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.