“Na pressa para desvinculá-lo do bolsonarismo, os comentaristas ignoram convenientemente suas redes sociais ‘patrióticas’ e a bandeira do Brasil”, aponta a comunicadora Sara Goes.
Confira:
A explosão de Francisco Wanderley Luiz na Praça dos Três Poderes rapidamente desencadeou uma corrida entre os grupos de extrema direita para garantir que ninguém pudesse confundi-lo com um bolsonarista. Wanderley, ou “Tiü Luiz” em sua frustrada campanha para vereador pelo Partido Liberal (sim, o mesmo de Bolsonaro), agora aparece na narrativa apressada de seus defensores como uma “figura excêntrica”, alguém que carregava um explosivo como se fosse um acessório do dia a dia.
Na pressa para desvinculá-lo do bolsonarismo, os comentaristas ignoram convenientemente suas redes sociais “patrióticas” e a bandeira do Brasil que ele empunhava. Não é coincidência essa urgência em isolá-lo. Ela se alinha ao projeto de anistia para os presos dos atos de 8 de janeiro, algo já defendido por figuras bolsonaristas. Afinal, para eles, a culpa não pertence aos envolvidos — esses são só “senhorinhas orando” em um país onde, aparentemente, as avós carregam pedras de forma inexplicável. Bolsonaro, é claro, deu seu aval à ideia de anistia, reafirmando que os “patriotas” de janeiro são apenas vítimas de um sistema judicial que, segundo ele, persegue quem ama a liberdade. Isso enquanto o próprio ex-presidente enfrenta investigações no STF e no TSE e, em discursos públicos, age como se as alegações fossem meras “armadilhas da esquerda”. Ao mesmo tempo, parte da imprensa o trata como uma figura “convencional”, amenizando seu histórico de ataques às instituições e ignorando as tentativas de golpe.
Essa normalização da violência, porém, esconde que figuras como Wanderley enxergam a si mesmos como “justiceiros”. Por anos, discursos inflamados contra o STF e o “comunismo imaginário” vêm criando um cenário onde qualquer pessoa se sente “chamada” a agir. Demonizar figuras como Alexandre de Moraes ajuda a pintar essa realidade distorcida, onde os tribunais e ministros são retratados como inimigos. E Wanderley ouviu esse chamado.
Para a extrema direita, o caso Wanderley é uma questão de imagem, nada além disso. Mas enquanto suavizam a gravidade de atos como o dele, a sociedade é lembrada de que o golpismo persiste, aguardando a próxima oportunidade. A luta, para o bem ou para o mal, continua.No fim das contas, para esses grupos, Francisco Wanderley Luiz é só mais uma “senhorinha” com a Bíblia na mão… e uma bomba na outra.
Aparentemente, rezando por uma justiça divina um pouco mais explosiva, ele só estava ali para fazer seu ato de fé patriótica. É como se a sua Bíblia – ou talvez o estandarte de uma bandeira verde e amarela – tivesse se transformado, sem querer, num dispositivo inflamável. Afinal, na narrativa da extrema direita, os Wanderleys são apenas almas piedosas, fiéis de um país que parece sempre disposto a confundir oração com pólvora.
Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira