“Falácias sobre a violências no Ceará: ‘A violência só existe porque somos um Estado pobre'” – Por Plauto de Lima

Plauto de Lima, coroel da reserva da PM-CE e mestre em Planejamento de Políticas Públicas.

Com o título “Falácias sobre a violências no Ceará: ‘A violência só existe porque somos um Estado pobre”, eis artigo de Plauto de Lima, coronel da reserva da PMCE e mestre em Planejamento de Políticas Públicas. Ele dá continuidade ao seu primeiro artigo com o tema da criminalidade no Ceará.

Confira:

A segunda falácia, propagada por aqueles que buscam justificar a ineficácia governamental na redução da criminalidade, e que pretendo desmistificar neste artigo, é a de que “a violência no Ceará existe porque somos um estado pobre.” Lembro-me da história de um jovem mulato que morava no Morro do Livramento, na cidade do Rio de Janeiro, em uma família muito pobre. Seu pai era pintor de paredes, e sua mãe, lavadeira, que faleceu enquanto ele ainda era criança. Seu pai se casou novamente, mas pouco tempo depois também faleceu, deixando-o aos cuidados de
sua madrasta. Desde pequeno, enfrentou dificuldades financeiras e preconceito racial. Sua saúde era frágil: sofria de epilepsia e tinha um problema crônico de visão. Esse jovem chamava-se Machado de Assis e tornou-se um dos maiores intelectuais do Brasil.

Nos últimos 20 anos, o Ceará apresentou uma redução no número de pessoas vivendo em extrema pobreza. Em 2003, 22% da população cearense, equivalente a cerca de 1,8 milhão de pessoas, encontrava-se nessa situação. Em 2023, essa proporção caiu para 9,4%, correspondendo a aproximadamente 876 mil pessoas. Esses dados evidenciam uma tendência de redução da extrema pobreza no estado ao longo das últimas duas décadas.

Em 2024, a economia do Ceará avançou 6,94%, registrando o melhor desempenho dos últimos 15 anos. Se a relação entre desenvolvimento econômico e redução da violência fosse direta, seria esperado que os índices de criminalidade também diminuíssem. No entanto, os números mostram o contrário: em 2004, registramos 19,6 homicídios por 100 mil habitantes, e, em 2024, esse número saltou para 35,4 homicídios por 100 mil habitantes — um aumento percentual de 80,6%. Ou seja, nem a redução da pobreza nem a melhoria da economia resultaram na diminuição dos
índices de violência no estado.

Ao analisarmos a pobreza em outros estados brasileiros, considerando o Produto Interno Bruto (PIB) per capita e a incidência de pobreza, observamos que Maranhão, Paraíba e Piauí figuram entre os três estados mais pobres do país. No entanto, contrariando a lógica simplista de que “menos riqueza significa mais violência”, esses três estados não estão entre os dez mais violentos do Brasil.

Muitas pessoas, ao tomarem conhecimento da história de Machado de Assis, se surpreendem. Isso porque há uma dificuldade em associar favelas ou comunidades pobres a locais onde jovens podem se destacar e prosperar. Essa visão distorcida reforça falácias como a que associam pobreza e violência, perpetuando um discurso simplista que ignora fatores mais complexos que influenciam a criminalidade. Além disso, ignora o fato de que são justamente os mais pobres as principais vítimas da violência.

*Plauto de Lima

Coronel RR da PMCE e mestre em Planejamento de Políticas Públicas.

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