Em referência ao Agosto Lilás, mês da conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres, a jornalista e escritora Mirelle Costa relata diariamente, neste espaço, casos que servem de alerta a todos nós
Confira:
(O texto abaixo foi escrito por uma mulher vítima de violência doméstica, atendida na Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza. O texto compõe a obra “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição”, publicada pelo Senado Federal, e organizada pela jornalista e escritora Mirelle Costa. Este texto pode conter gatilhos emocionais que podem afetar algumas pessoas).
Sou Luz. Hoje quero reescrever minha história de uma maneira diferente. Mesmo sabendo que passei por momentos ruins em minha vida, tiro de cada história que vivi até aqui, um enorme aprendizado. Com certeza, saio diferente de como cheguei.
Apesar de todo sofrimento, dor, angústia e lágrimas derramadas, hoje posso dizer que me tornei e, estou me tornando, uma “grande mulher”.
Das histórias que aqui foram relatadas, senti que, de todas elas, era como se visse um flashback em minha mente. Apesar de não ter sofrido violência física, posso dizer que levo muitos traumas, feridas em um lugar profundo da alma por ter vivido anos com um homem opressor, agressor e narcisista, que não se importava com meu sofrimento e apenas dizia que era só cena, pois eu era uma atriz.
Estou em processo de cura, de libertação. Não é fácil, mas não vou desistir, pois tenho meus filhos que precisam de mim. Cada dia é uma luta constante, pois sei que nada é para sempre, principalmente esse sofrimento que vivi e vivo.
Apesar de tudo que passei, sempre acreditei que um dia minha vida mudaria e que seria feliz. Hoje sou divorciada e moro com meu filho mais novo. Um filho maravilhoso, meu amigo, meu companheiro, meu protetor e que sempre me dá forças para continuar lutando para ser feliz.
Atualmente não pretendo mais me casar ou viver maritalmente com homem nenhum. Porém, se, por um acaso, Deus me enviar alguém, quem sabe eu abra as portas do meu coração novamente e dê uma nova chance para o amor?
Devido às violências que sofri, me fechei em meu próprio mundo e tenho muito receio de me envolver novamente e passar por tudo que passei nas mãos do meu ex.
Este projeto me fez ver o quanto a escrita liberta (é bem verdade que escrever dói), pois os sentimentos ruins vêm à tona, mas ao mesmo tempo, curam.
Espero que cada história, cada relato de nós mulheres que fomos vítimas de algum tipo de violência, possam inspirar e abrir os olhos de outras mulheres que também vivem violência em casa, para que as mesmas tomem coragem de denunciar seus agressores e se libertem dessa vida de angústia e sofrimento, assim como muitas de nós fizemos.
Sei que não é fácil, mas é possível. Eu fui uma vítima de violência doméstica por anos, sem saber. Até que um dia eu dei o primeiro passo e denunciei. Foram anos e anos de luta até que, um dia, conseguimos nos divorciar, mas ainda estou em processo de desintoxicação dessa “dependência emocional” que tenho dele, mas sei que vai dar certo, pois tudo faz parte do processo para que eu viva o “propósito”.
Mulheres, nós somos donas de nossa própria torre e de nossos castelos.
Precisamos, apenas, tomar posse. Juntas, somos mais fortes!
Luz
(Diante de qualquer situação de violência doméstica, ligue 180, é a Central de Atendimento à Mulher, um serviço telefônico do governo federal que oferece acolhimento, orientação e informações sobre os direitos das mulheres, além de receber denúncias de violência contra a mulher)
Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing