“Usava uma velha máquina de escrever, ruidosa, cheia dos atavios que antecipavam a revolução eletrônica dos computadores”, aponta o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto.
Confira:
Era de ver Fernando Câmara entregue aos cuidados da secretaria do Instituto, a aviar recibos e a recolher os valores das mensalidades, secretário e tesoureiro, sozinho em uma sala vazia, cercado dos arquivos da burocracia da Casa do Barão.
Usava uma velha máquina de escrever, ruidosa, cheia dos atavios que antecipavam a revolução eletrônica dos computadores.
O Instituto não se entregou com facilidade à sedução da modernidade na gestão dos seus haveres e contas. Fernando fazia da Tesouraria a fonte de receita dos valores das mensalidades, movimentava cheques e pagamentos em espécie. Tratava a seiva que irrigava o Instituto e o mantinha vivo, apto a pagar as suas modestas contas e obrigações.
Esta vocação de administrador não escondia, entretanto, nem dissimulava o apelo de pesquisador e genealogista, nem o incansável ordenador dos registros e dos fatos da vida da imensa família.
De historiador, José Aurélio Saraiva Câmara não seria o único, na família, a trabalhar a crônica e a História. Fernando herdara o veio inesgotável do pesquisador, a paciência e a persistência dos detetives da história. Deixou em livros, artigos, nas obras e nos feitos, intenções e gestos que marcam a sua contribuição pessoal de lobo solitário tomado pela disciplina do investigador compulsivo.
Arquivos, papéis, testemunhos, as narrativas dadas como perdidas, as ilações que ajudam a consolidar os fatos e as circunstâncias, este acervo de informações expunha uma excepcional capacidade para explorar os silêncios e os vazios da memória coletiva.
Da família, fui contemporâneo de Fenelon, na Escola Preparatória de Fortaleza e aluno do coronel-professor José Aurélio Saraiva Câmara, com quem trabalhei no Departamento de Cultura da Universidade Federal do Ceará.
Uma perda considerável para o Instituto do Ceará. Uma partida que deixa boas e sóbrias lembranças entre os amigos e admiradores.
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC