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Ficar sem ele… – Por Mirelle Costa

(Foto: Lina Arquivo pessoal)
(Foto: Lina Arquivo pessoal)

Hoje eu não me imagino mais sem ele, mas, antes, eu nem sabia que ele existia. Confesso que, sim, fico comparando o meu com o das outras pessoas. Às vezes, parece que ele nunca será suficiente e me dá uma angústia ao pensar: Será que, quando eu precisar, ele vai me deixar na mão, ou vai sempre atender às minhas expectativas? Por que sempre penso que poderia ter um melhor do que tenho hoje? Vejo gente esbanjando o seu na cara das outras pessoas.

Eu tô falando do celular. (Vocês achavam que era de que? Ou (pior) de quem?) risos. O fato é que foi publicado um decreto que regulamenta o uso de celular na escola. O objetivo da legislação é proteger a saúde mental, física e emocional de crianças e adolescentes, ao mesmo tempo em que busca conscientizá-los dos riscos relacionados ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos.

Será que essa proibição pode estimular o hábito da leitura? A estudante Lina Moura. Ela conta que tem ido mais à biblioteca por ser um ambiente agradável e que os colegas dela também frequentam o lugar com mais frequência para interagir e ler. Um dos livros mais recentes que ela leu foi “A turma dos Tigres”, uma história divertida com suspense e aventura.

Segundo o pai, Alfran Moura, a retirada do celular foi positiva, pois as crianças podem interagir e brincar mais com os colegas na escola. A instituição de ensino em que ela estuda tem vários projetos de incentivo à leitura, desde a educação infantil.

(Foto: Lina Arquivo pessoal)
(Foto: Lina Arquivo pessoal)

A professora Luciana Braga, que também é ilustradora e escritora, fala sobre a sua realidade com os alunos do ensino médio da rede pública de ensino. “Estamos na terceira semana de aula e ainda tem gente que tenta mexer no celular escondido.

A ideia de transgredir é sedutora na adolescência, mas a maioria está consciente. Alunos do terceiro ano são um pouco mais maduros. Penso que com o primeiro ano deve ser mais desafiador. O celular é parte do corpo deles, de verdade. Eles não conseguem desgrudar, mesmo eu pedindo para guardar dentro da mochila, sentem no colo as vibrações tecnológicas. É um vício absurdo! Já conversei com eles sobre os impactos psicológicos, cognitivos e sociais, mas não é fácil.

O celular pode ser a porta para um mundo da fantasia distante da realidade de quem não tem dinheiro para viajar ou buscar outras diversões. Essa fantasia atrai. Lá todos usam filtros e ninguém sabe como ninguém vive. A ideia agora é associar também essa concepção fantástica ao universo literário”, explica Luciana Braga, autora da obra “Escrita Infinita”, que pode ser adquirida pelo Instagram da autora, o @luciana_braga7.

(Luciana é professora há 22 anos, atualmente também responsável pela biblioteca da escola no turno da manhã)
(Luciana é professora há 22 anos, atualmente também responsável pela biblioteca da escola no turno da manhã)

Nesses primeiros dias de adaptação, a professora faz um balanço bastante positivo. “Como professora de português, que inclui literatura, sempre desenvolvo atividades de incentivo à leitura, seja levando para sala de aula o livro que estou lendo e falando sobre ele, como também nas atividades, trabalhos e leituras em sala de aula, isso muito antes da proibição do celular. A biblioteca não é somente um espaço para leitura, mas também um lugar para socialização, incluindo jogos de tabuleiro e afins. Então, a maioria prefere pegar um livro emprestado para ler em casa e, no horário do intervalo, jogar e socializar na biblioteca.

Confesso que a grande maioria não gosta de ler, pelo menos os que não são meus alunos confessam isso abertamente. O fato é que o celular é mais atrativo que o livro para eles. E é por isso que, ano passado, também enviei PDFs de livros e postei sobre livros no Instagram para me aliar ao celular.

Este ano, o movimento é diferente. Estamos tendo que retirar o celular da jogada, então, o estímulo é o livro físico mesmo, uma luta diária”, desabafa Luciana Braga, e também comenta sobre um projeto na escola chamado Café Literário, organizado pelo Centro de Multimeios, um evento com café especial e convidados para homenagear os alunos leitores premiando com livros doados de professores, amigos e comunidade.

Ano passado, a editora Luazul doou quase cem livros para o projeto. A ideia é também dialogar com os leitores sobre os livros que eles estão lendo para não haver competição de quem lê mais. A ideia é que eles leiam em casa ou nos intervalos na escola e uma vez por mês haja um encontro na biblioteca sobre a leitura. O projeto também é do professor Luiz Vieira.

Blog do Eliomar

O professor e escritor Bruno Paulino reflete sobre a formação de público leitor. Para ele, o leitor de forma a partir de sua zona de interesse, uma hora ele se encontra com o que chama a sua atenção (e encontra-se também). “Meu trabalho como professor de quarenta horas semanais é tentar convencer adolescentes a largarem a tela de um celular e mergulharem nas páginas de um livro.

Com a proibição do celular nas escolas, o desafio continua quase o mesmo. Não existe receita fácil para formar um leitor. Sempre penso que minhas iniciativas para incentivar a leitura não estão funcionando, mas nessas semanas me deparei com alguns alunos folheando as páginas de Harry Potter, a Revolução dos Bichos; e para minha imensa alegria, Capitães da Areia do Jorge Amado. Também vi muitas meninas com os livros da Colleen Hoover, a autora da moda.

Se todos estão lendo não sei, mas pelo menos alguns alunos andam com livros físicos agora”, comenta Bruno Paulino, autor do livro “Inventário do Poeta da Província”, uma coletânea de poemas reunidos ao longo de sessenta páginas, que pode ser adquirido por meio das redes sociais do autor @brunopaulino123.

O escritor esteve recentemente em Fortaleza para participar, como organizador, do lançamento do livro “Relatório da Expedição Pedro Wilson a Canudos e o Romance Histórico Sangue Não Lava a Honra“ de Mario Mendes Junior, que teve a mediação de Maura Isidorio e aconteceu na última quinta-feira.

(Na Bienal Internacional do Livro no Ceará, Bruno Paulino será Coordenador do Seminário de Periódicos e Revistas Literárias Impressas e Eletrônicas)
(Na Bienal Internacional do Livro no Ceará, Bruno Paulino será Coordenador do Seminário de Periódicos e Revistas Literárias Impressas e Eletrônicas)

Eu, como disse, sou da época que celular só fazia ligar, mandar e receber torpedo. Objeto de desejo pra mim, quando adolescente, era o Nokia 3310 e eu ainda tinha 31 anos para fazer ligações ilimitadas. Hoje a gente se irrita quando o telefone toca. Reconheço o desafios dos professores (herois) nos dias de hoje.

Como já disse aqui na coluna algumas vezes, a leitura pra mim era refúgio, na adolescência (e até hoje também). A biblioteca era um aconchego certo para a estudante que não se dava bem com esportes (nem pedra na lua). Essa escolha me definiu como escritora, ainda criança. A literatura liberta, por isso, ainda estou aqui!

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