Com o título “Fim da reeleição”, eis o artigo da socióloga Fátima Vilanova. Confira:
Os políticos continuam desacreditados no Brasil. Os desmandos deles vendem jornais, revistas, elevam a audiência dos canais de tv, geram engajamento nas redes sociais. As matérias desses veículos versam sobre desvio de verbas em obras públicas, em estatais para abastecimento de partidos políticos, sobre dinheiro de propina em malas, cuecas e partes íntimas, sobre rachadinhas, desvios de emendas parlamentares para compras de votos nas eleições.
As operações da Polícia Federal são acompanhadas com interesse e esperança de que os criminosos da política serão, finalmente, alcançados. Os resultados práticos das denúncias são pífios, demorados, os crimes prescrevem, ou os denunciados são soltos, ou ficam inelegíveis por tempo reduzido. A Lava Jato despertou esperança e frustração coletivas pelas falhas apontadas nos processos. E tudo continua como antes, sem perspectiva de melhora. O que fazer?
Essa pergunta precisa merecer a atenção da sociedade brasileira, e as soluções, discutidas, para que aventureiros populistas, avessos à democracia, não se apresentem como salvadores. Um dado importante a considerar é o efeito danoso da perpetuação dos eleitos na política, situação que dificulta o aperfeiçoamento da legislação para coibir os abusos, os crimes cometidos por eles no exercício dos mandatos e funções públicas.
Político no Brasil tem poder demais, tem a política como emprego, que paga os melhores salários, não presta contas de seus atos, está muito distante da população na ausculta de suas necessidades e interesses, e dificilmente, é alcançado por cometimento de crimes no exercício do poder. Acabar com a possibilidade de reeleição para todos, de vereador, prefeito, governador, deputado, senador, presidente da República seria algo revolucionário para a moralização dos costumes políticos e para o avanço da democracia.
A defesa desta mudança precisa ser abraçada por todos os que estão revoltados com os desmandos dos políticos, como a corrupção, a compra de votos, as rachadinhas, as emendas parlamentares, os fundos partidário e eleitoral, ambos exorbitantes e indecentes, o loteamento da máquina pública, falta de transparência, e de compromisso. Os partidos políticos precisam constituir-se em escolas de cidadania, preparar os que desejam prestar um serviço relevante à população no exercício de apenas um mandato, restaurando o valor da virtude nas funções públicas.
O alcance deste objetivo necessita de lideranças corajosas que entendem a política como serviço e não como emprego, que queiram combater todos os vícios da política. Um plebiscito seria uma providência interessante para avaliar os sentimentos da população em relação à proposta do fim da reeleição para todos.
Fátima Vilanova é doutora em Sociologia